Olá, pessoal!
Resolvi fazer este post num formato diferente do habitual. Depois da História da Loucura, vimos que as maiores atrocidades praticadas nesse mundo foram realizadas em nome da Religião sob o senso do Divino e da Salvação e também em nome da Ciência pela Verdade e o Conhecimento.
Segundo o filósofo Michel Foucault, o hospital psiquiátrico, assim como o manicômio, asilo e presídio, são considerados uma instituição total. O objetivo da instituição total é disciplinar os indivíduos julgados não socializáveis. O biopoder usado por esse tipo de instituição, seria a unificação disciplinar do corpo e da mente, os corpos se tornariam dóceis e submissos à lógica institucional e a mente aceitaria mais fácil a vigilância e a disciplina produzidas nesse tipo de ambiente.
Sabendo como funcionava um hospital psiquiátrico nos séculos passados, achei pertinente sugerir algumas histórias que se passam nessa atmosfera. Adoro muito cinema e espero que os 11 filmes listados por mim, tragam distração e reflexão para o final de semana de vocês.
11 filmes com cenário de hospital psiquiátrico
1. UM ESTRANHO NO NINHO (1975)
Randle McMurphy tem uma ficha policial marcada por episódios de agressão e violência. Quando é novamente detido e sentenciado, sua defesa alega insanidade, e é mandado para um hospital com pessoas mentalmente instáveis. Lá, conhece a enfermeira Ratched, com quem entra em conflito pela maneira como ela trata os outros internos. McMurphy inicia uma mudança no lugar, incentivando os pacientes a imporem suas vontades, o que mexe com a rotina e muda a vida de todos.
Depois de assistir “O Iluminado”, fiquei alucinada com a história, o cenário e a atuação de Jack Nicholson, procurei então por outro trabalho do mesmo ator e encontrei “Um Estranho no Ninho”, quando li a sinopse já sabia que iria gostar do filme, que também se tornou meu favorito, inclusive, existe uma resenha que fiz no começo do Melkberg com uma análise do filme.
Em “Um Estranho no Ninho”, podemos observar várias práticas abusivas usadas nesse tipo de ambiente hospitalar e a lógica institucional constituída para violentar, tirar a voz e os direitos dos diagnosticados como loucos, além de explorar a polêmica e mal sucedida lobotomia.
2. TEMPO DE DESPERTAR (1990)
A história do trabalho extraordinário de um médico nos anos 60 com um grupo de pacientes catatônicos de um hospital do Bronx. Especulando que o estado dos pacientes poderia ter sido causado por uma forma extrema do mal de Parkinson, o médico pede permissão a seus superiores para tratá-los com L-dopa, uma droga usada para tratar a doença na época.
Outro que está na lista de favoritos é “Tempo de Despertar”. Baseado em fatos reais, o filme conta a história brilhante do Dr. Oliver Sacks na procura pela cura dos seus pacientes com encefalite letárgica e seu desempenho em proporcionar o melhor tratamento e acolhimento aos que estavam internados. O neurologista Oliver Sacks fez a diferença no hospital de Psiquiátrico de Bronx e mostrou como o humanismo é indispensável para alcançar o bem-estar de todos, desde o primeiro contado com o paciente até o convívio profissional com os colegas de trabalho. Para saber mais, clique aqui!
3. GAROTA INTERROMPIDA (1999)
Em 1967, após uma sessão com um psicanalista que nunca havia visto antes, Susanna Kaysen (Winona Ryder) foi diagnosticada como vítima de “Ordem Incerta de Personalidade” – uma aflição com sintomas tão ambíguos que qualquer garota adolescente pode ser enquadrada. Enviada para um hospital psiquiátrico, ela conhece um novo mundo, repleteo de jovens garotas sedutoras e transtornadas. Entre elas está Lisa (Angelina Jolie), uma charmosa sociopata que organiza uma fuga.
Assisti “Garota Interrompida” pela primeira vez quando era adolescente e adorei, principalmente o papel de Susan, interpretada por Winona Ryder. Esse filme foi baseado no livro de memórias homônimo, escrito por Susanna Kaysen. Além disso, “Garota Interrompida” conta com um elenco maravilhoso.
Susan se vê obrigada a acatar as ordens dos funcionários do hospital psiquiátrico e em nenhum momento pode perguntar nada. Ao descobrir que era borderline, Susan fica revoltada e se agarra ao diagnóstico, dificultando o tratamento, depois através da prática da escrita, ela expõe seus pensamentos de forma mais clara e consegue uma melhora significativa, sendo ela mesma e não um diagnóstico em pessoa.
Outro destaque é a relação desenvolvida entre Susan (borderline) e Lisa, uma sociopata. Quando esses dois tipos de transtorno de personalidade se cruzam, eles não se soltam mais. À princípio, a amizade parece estar indo bem, porém o perfil mais fácil do sociopata manipular é o borderline. E Susan com suas emoções descontroladas é atraída pelo perfil sedutor e envolvente de Lisa. A passional Susan se sente segura ao lado da manipuladora Lisa, mas conforme o tratamento de Susan evoluí, ela consegue perceber que Lisa apenas usa ela e não se importa com mais ninguém, além de si mesma.
4. BICHO DE SETE CABEÇAS (2000)
O relacionamento entre Wilson e seu filho Neto está cada vez pior. A situação entre os dois chega ao seu limite, até que o pai decide internar o filho em um manicômio, onde o rapaz enfrenta condições terríveis de tratamento.
Neto (Rodrigo Santoro) é internado em um hospital psiquiátrico, após seu pai descobrir que ele fuma maconha. Desesperado para encaixar Neto nas normas de sua família, Wilson interna o filho à força e esquece dele, colocando-o nas mãos dos médicos. Dentro de um sistema asilar manicomial, Neto vira vítima, sofrendo com choques elétricos, agressões físicas e psicológicas, o aproximando cada vez mais da loucura. Os remédios pesados tornavam ele incapacitado e única forma de estar perto da razão é escrever suas cartas, contando a nova realidade para a família.
A relação problemática entre pai e filho, o uso de drogas e a importância da luta antimanicomial para quebrar esse sistema asilar, são questões sociais relevantes expressadas em “Bicho de sete cabeças”, rendendo vários prêmios como melhor filme brasileiro de todos os tempos.
5. ILHA DO MEDO (2010)
1954. Teddy Daniels/Andrew Laeddis (Leonardo DiCaprio) investiga o desaparecimento de um paciente no Shutter Island Ashecliffe Hospital, em Boston. No local, ele descobre que os médicos realizam experiências radicais com os pacientes, envolvendo métodos ilegais e anti-éticos. Teddy tenta buscar mais informações, mas enfrenta a resistência dos médicos em lhe fornecer os arquivos que possam permitir que o caso seja aberto. Quando um furacão deixa a ilha sem comunicação, diversos prisioneiros conseguem escapar e tornam a situação ainda mais perigosa.
Andrew Laeddis foi um ex combatente da segunda guerra mundial, muito violento e traumatizado. Após deixar o exército, ele ingressa na carreira policial e se torna delegado. Casado com Dolores Chanal, eles tiveram três filhos, mas Andrew era um pai ausente e Dolores uma maníaca-depressiva que ao entrar em surto psicótico, afoga seus três filhos em um lago da casa. Inconformado Andrew mata sua esposa. (SPOILER)
Há uma cisão do Eu de Andrew, que se transforma em Teddy, mascarando a culpa que Andrew sente. Podemos dizer que Andrew Laeddis apresenta esquizofrenia paranóide, porque a psicose é uma defesa mal sucedida do Eu. Sempre que tentavam trazer a verdade para Andrew, ele ficava muito violento e acabava criando uma outra realidade. Considerado o paciente mais violento da ilha, a última alternativa escolhida para seu tratamento foi a terrível lobotomia.
6. A CURA (2016)
Um jovem e ambicioso executivo (Dane DeHaan) é enviado para os Alpes Suíços com a missão de trazer de volta o CEO da empresa, em tratamento em um ‘Centro de Cura’. Após sofrer um acidente automobilístico, no entanto, o rapaz acaba internado na mesma instituição, cujo corpo médico promete purificar os pacientes por meio de uma água milagrosa – e que se localiza em um lugar de passado misterioso. Incapacitado de retornar para casa, o personagem passa a duvidar da própria sanidade, ao mesmo tempo em que desconfia da motivação do doutor responsável pelo “spa”.
O protagonista Lockhart suspeita dos tratamentos milagrosos oferecidos pelo spa, ao tentar desvendar o motivo de tantas internações, os mistérios e segredos aterrorizantes do lugar vão se revelando. Durante esse tempo, ele é diagnosticado com a mesma doença que mantém todos ali à espera da cura. Sendo submetido aos mesmos tratamentos, ele ficará confuso entre realidade e ilusão, testando sua sanidade.
7. NISE – O CORAÇÃO DA LOUCURA (2015)
Ao voltar a trabalhar em um hospital psiquiátrico no subúrbio do Rio de Janeiro, após sair da prisão, a doutora Nise da Silveira (Gloria Pires) propõe uma nova forma de tratamento aos pacientes que sofrem da esquizofrenia, eliminando o eletrochoque e lobotomia. Seus colegas de trabalho discordam do seu meio de tratamento e a isolam, restando a ela assumir o abandonado Setor de Terapia Ocupacional, onde dá início a uma nova forma de lidar com os pacientes, através do amor e da arte.
Quem foi Nise? Se você não sabe, esse filme é uma ótima oportunidade para conhecer essa grande mulher e forte figura feminina que se contrastou ao cenário da medicina repleto por homens médicos. Nise revolucionou a forma de tratamento tradicional e modificou o tipo de atenção dada aos pacientes psiquiátricos, sendo a pioneira no processo da luta antimanicomial. Leia a resenha de Nise – o coração da loucura, aqui!
8. 55 PASSOS (2018)
Uma paciente que está em tratamento psiquiátrico e uma advogada enfrentam uma disputa histórica, que visa a mudar nos tribunais a vida milhares de pacientes. Porém, ao mesmo tempo que tentam mudar a lei, elas se aproximam e mudam suas próprias vidas para sempre.
Baseados em fatos verídicos, no filme “55 Passos” Eleanor Riese (Helena Bonham Carter) é uma mulher com esquizofrenia paranoide crônica e retardo mental leve, que após muitos anos de um longo e complexo tratamento psiquiátrico, decide batalhar na justiça pelos seus direitos e para que outros pacientes possam ter voz e liberdade para participarem das decisões médicas, sem que eles sofram possíveis abusos de médicos e pudessem diminuir as doses de medicamentos que causavam graves efeitos colaterais. Para isso, Eleanor receberá a ajuda da advogada e ex-enfermeira Colette Hughes (Hilary Swank), que junto ao professor e advogado Mort Cohen (Jeffrey Tambor) fará de tudo para vencer a batalha judicial.
9. OS DOZE MACACOS (1995)
No ano de 2035, James Cole (Bruce Willis) aceita a missão de voltar ao passado para tentar decifrar um mistério envolvendo um vírus mortal que atacou grande parte da população mundial. Tomado como louco, no passado, ele tenta provar a sua sanidade para a médica Kathryn Railly (Madeleine Stowe), sua única esperança de mudar o futuro.
Uma ficção científica que exige muita atenção e brinca justamente sobre como é tênue a linha entre sanidade e loucura, fazendo você pensar por muitas vezes se os acontecimentos ocorridos com James Cole numa viagem no tempo, são reais ou se o protagonista é mesmo louco. A dúvida sempre é colocada de modo angustiante e proposital para o telespectador se sentir na pele de James Cole, respeitar o pensamento e procurar a razão na mente dele, pois nós mesmos ficaremos confusos com a veracidade da realidade apresentada.
10. O BAILE DAS LOUCAS (2021)
A história de Eugènie, uma jovem luminosa e apaixonada do final do século XIX. Eugènie tem um dom único: ela ouve e vê os mortos. Quando sua família descobre seu segredo, ela é levada por seu pai e irmão para a clínica neurológica em La Salpêtrière sem possibilidade de escapar de seu destino. Esta clínica, dirigida pelo eminente professor Charcot, um dos pioneiros da neurologia e da psiquiatria, acolhe mulheres com diagnóstico de histeria, loucura, epilepsia e todos os outros tipos de doenças físicas e mentais. O caminho de Eugènie irá então encontrar o de Geneviève, uma enfermeira de unidade neurológica cuja vida passa diante de seus olhos sem que ela realmente a viva. O encontro mudará seus destinos para sempre enquanto se preparam para participar do famoso “Bal des Folles” organizado todos os anos pelo Professor Charcot dentro da clínica.
Baseado no livro “Le Bal des Folles”, de Victoria Mas (2019). O Baile das Loucas é uma ficção inspirada nas histórias reais de mulheres submetidas a tratamentos psiquiátricos experimentais nas mãos do renomado médico Jean-Martin Charcot. O filme retrata os abusos sofridos por Eugènie em um hospício parisiense em finais do século XIX. Enquanto a maior parte das mulheres estavam preocupadas com bailes, vestidos e chás, Eugènie era culta, gostava muito de ler e emitia sua opinião sobre os mais diversos assuntos, mas acaba sendo repudiada por seu comportamento inadequado aos olhos do pai que a interna. Além de tudo, o filme também aborda a intolerância religiosa e o começo do espiritismo na França com a publicação do Livro dos Espíritos de Allan Kardec. Eugènie é médium e não esconde o dom de se comunicar com os mortos, a partir daí contará com a ajuda da enfermeira chefe Geneviève que acredita na paciente e está disposta a ajudá-la.
11. REFÚGIO DO MEDO (2014)
Um jovem recém graduado na faculdade de medicina assume um cargo numa instituição mental e logo se vê apaixonado por uma de suas colegas – e tal distração não permite que ele perceba uma terrível mudança no corpo de funcionários.
Quem é o louco e o são? Em “Refúgio do Medo”, um filme baseado no conto O Sistema do Doutor Alcatrão e do Professor Pena, de Edgar Allan Poe, propõe uma atmosfera de tensão e mistério, nos envolvendo dentro do cenário de um hospital psiquiátrico em que o doutor recém-formado Edward Nwegate é aceito para trabalhar. À primeira vista, o hospital psiquiátrico parece organizado, priorizando o bem estar do paciente, mas não demora muito para o jovem Edward perceber que algo muito estranho estava acontecendo naquele local.
Apaixonado pela paciente histérica Eliza Graves, Dr. Edward começa uma investigação e descobre que escolheu o local errado para iniciar sua carreira na psiquiatria. Havia uma outra realidade escondida naquele hospital e ele agora terá que lutar para sair do comando daqueles que produzem a verdadeira loucura.
Se gostou das minhas sugestões, já assistiu algum desses filmes e tem um preferido, deixe seu like e comentário. Um bom final de semana repleto de filmes para vocês ˆ•ˆ
A loucura é diagnosticada pelos sãos, que não se submetem a diagnóstico. Há um limite em que a razão deixa de ser razão, e a loucura ainda é razoável. Somos lúcidos na medida em que perdemos a riqueza da imaginação.
Carlos Drummond de Andrade
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