“Mudar – caminhos para a transformação verdadeira” aborda as dificuldades que as pessoas têm em mudar comportamentos que as incomodam. Com essa leitura podemos compreender melhor os hábitos não saudáveis persistentes e fobias limitantes. A escrita do autor é fluida, não há muitos termos técnicos, o que facilita para os leigos em psicologia.
A mudança é um processo extremamente complexo.
Este livro não é um manual prático para realizar uma mudança. Nas 152 páginas, Gikovate discute quais são os mecanismos por trás da nossa resistência à mudança e como entendê-los para conseguir desfazê-los. No processo de mudança são necessárias a vontade pessoal e a autoanálise. A razão também tem um papel primordial para saber o que de fato queremos mudar. Gikovate nos revela, sem fórmulas prontas ou conselhos fáceis, como a biologia, a cultura e a personalidade moldam o indivíduo, a partir de reflexões sobre nossa capacidade de mudar.
Segundo o psiquiatra e psicoterapeuta, em todos anos de profissão o que ele mais encontrou foram pessoas insatisfeitas consigo mesmas e ansiosas por mudar seus comportamentos. O medo da mudança atingi pessoas de todas as personalidades. A má notícia que Gikovate traz é que infelizmente os profissionais da área de saúde mental ainda encontram poucos instrumentos e estratégias para auxiliar o paciente aflito. Além disso, existem pacientes que desejam mudar, mas não sabem responder com precisão o que realmente querem modificar em sua forma de ser, pensar e agir, retardando o processo de mudança.
Todos nós somos portadores de uma inquietação mental. Muitas pessoas não têm consciência e sofrem anos de frustração, desejando mudar algo que não conseguem. Isso acontece porque há determinadas características inatas e biologicamente definidas que são impossíveis de serem alteradas e, portanto precisam ser aceitas o quanto antes.
Fugir da dor é o impulso mais primitivo que temos, esse impulso está ligado ao mecanismo de sobrevivência. Se possuímos algum comportamento disfuncional que provoca sofrimento, e não nos auxilia em nada a progredir na vida, essa pode ser uma boa motivação para a transformação verdadeira, pois a recompensa será maior que todo o sacrifício envolvido na mudança de comportamento. Isso deve estar claro na mente do paciente. Um exemplo é o caso da dependência por qualquer tipo de vício, a renúncia feita no processo de mudança para o abandono da compulsão, controle de recaída e a resistência diante dos sintomas de abstinência.
Outro tipo de mudança que o autor Gikovate nos mostra é quando a pessoa tem certeza o que não quer mais em sua vida, sabe aonde quer chegar, mas não tem força para concretizar a mudança. Isso é bem comum na vida conjugal, a pessoa não deseja mais permanecer casada com seu parceiro, e ao mesmo tempo acredita que não consegue mais ficar solteira, então ela não se separa por estar acomodada na condição de malcasada.
Para explicar o motivo da dificuldade em mudar, Gikovate explica algumas hipóteses psicanalíticas, como experiências traumáticas e o sentimento de culpa latentes no inconsciente. Ele também discute sobre as chamadas teorias cognitivas comportamentais e o fortalecimento da razão para os casos de fobia, em que a pessoa entende todas as razões que o levam a ter medo, mas continua apresentando grande ansiedade para enfrentá-lo. Todos precisamos de força de vontade e orientação para descobrir os caminhos para a nossa mudança, o processo é trabalhoso, precisa de maturidade, disciplina, coragem, saber suportar fracassos e ir em frente. Mudar é pra gente grande.
Várias limitações estão envolvidas no processo de mudança. Questões relacionadas ao financeiro, pode impedir alguém de mudar de cidade, emprego ou se divorciar. Uma saúde frágil pode dificultar a prática de atividades físicas. As limitações do tempo podem desestimular aquele velho sonho de fazer determinado curso e aprender algo totalmente novo. Muitos obstáculos serão encontrados nos caminhos para a mudança e o último será o inesperado medo da felicidade, esse estranho anseio surge sempre que uma etapa é concluída, é um medo ameaçador que deve ser encarado, porque toda vez que estamos perto de conquistar algo, travamos e voltamos atrás. Segundo o autor é uma tendência destrutiva nossa, autosabotagem e provavelmente um reflexo condicional, em função do trauma do nascimento.
Super indico o livro, gostei bastante! Eu apenas acho que a editora poderia alterar o subtítulo, pois induz os leitores ao erro em relação ao principal objetivo da leitura. Vi algumas pessoas reclamando que compram o livro, pensando que seria algo didático, que ensina-se a como mudar. E a realidade é bem diferente, como o próprio autor diz no início do livro, ele não vai te indicar os caminhos para a mudança. O intuito do livro é favorecer a autoanálise, trazer informação através da experiência que Gikovate tinha em muitos anos de prática clínica. “Mudar – caminhos para a transformação verdadeira” está longe de ser um livro de autoajuda, nada de passo a passo. Cada ser humano é singular e complexo.
Ficou com vontade de ler?
Encontre aqui Mudar: caminhos para transformação verdadeira, de Gikovate. Para saber mais detalhes, clique abaixo.