Como uma ferida aberta localizada no cérebro, às vezes, ela pode parecer adormecida, mas de repente se abre e provoca dores idênticas às do momento do trauma. Muitos judeus que sobreviveram aos campos de concentração nazistas sentiram essa ferida durante toda a vida após o holocausto, era como se o tempo não desse conta de apagar todas as marcas do trauma vivenciado. O mesmo acontece, por exemplo, com vítimas de violência urbana, gerando grande instabilidade no sistema nervoso delas.
Os estressores que causam o TEPT podem ser experiências de guerra, tortura, catástrofes naturais, agressões, estupros, acidentes automobilísticos ou incêndios. O estressor por si só não é suficiente para provocar TEPT, é preciso considerar também fatores individuais preexistentes biológicos e psicossociais e eventos que tenham ocorridos antes e depois do traumatismo. O mesmo evento traumático pode não marcar outra pessoa tão drasticamente a ponto de deixar sequelas para o resto da vida.
Possivelmente, todos que estão lendo este post já vivenciaram alguma experiência difícil, quase que insuportável, traumática. No entanto, nem sempre a dor correspondente ao trauma se transforma em um transtorno da mente, mesmo que sua recordação seja inevitável. A predisposição para o TEPT está muito relacionada à sensibilidade emocional de cada um, ao tipo de atividade que exerce ou aos grupos de risco que esteja inserido (militares, policiais, etc.), problemas de ansiedade ou depressão e capacidade de lidar com situações adversas. Sendo assim, a vítima pode ter sido exposta a um estímulo traumático pouco severo, mas acaba desenvolvendo o transtorno por sua condição individual.
TEPT: recordar é viver com medo
Os portadores do TEPT vivem atormentados pelo trauma, eles recordam, revivem e remoem toda a dor que os abateu como se estivessem sangrando por dentro, eles não conseguem evitar as lembranças do trauma. Foram vítimas de alguma experiência ameaçadora ou catastrófica; testemunharam a morte de perto; correram risco de vida; foram violentados, torturados psicologicamente ou fisicamente; sofreram abusos sexuais; e etc. Todo trauma acompanha junto sentimentos de impotência, medo e horror, desenvolvendo sintomas físicos e psíquicos que revelam o trauma não superado.
transtorno de estresse pós-traumático
Diagnóstico e Sintomas
Depois de uma situação traumática é necessário um tempo para cicatrizar a dor. Para fazer o diagnóstico do transtorno de estresse pós-traumático, os sintomas devem persistir por mais de um mês após o evento ocorrido e afetarem de modo significativo áreas importantes da vida da vítima como a familiar e profissional. Se os sintomas persistirem menos de um mês, daí o diagnóstico é provavelmente denominado de “transtorno de estresse agudo”. Outro ponto importante que deve ser esclarecido, os sintomas do TEPT nem sempre surgem logo após o trauma, podem levar meses até desencadearem.
Outros sintomas muito relatados estão relacionados a irritabilidade, explosão de raiva, insônia, dificuldade de concentração, hipervigilância (estado de alerta permanente) e/ou respostas exageradas a estímulos normais e corriqueiros que geram sobressaltos, sustos.
Quem sofre de TEPT pode desenvolver forte sentimento de culpa por terem sobrevivido ao evento traumático, autodepreciação e depressão. Em casos raros, o portador experimenta quadro dissociativos (perda da realidade), de tempo variável, que são confundidos com alucinações, esquizofrenias e psicoses.
Os transtornos psiquiátricos associados ao TEPT, são: transtorno do pânico, depressão, fobia social, fobia específica, transtorno obsessivos compulsivo (TOC), abuso de substâncias (dependência química), entre outros. Por isso, é essencial que a pessoa procure tratamento logo no início para o quadro não piorar.
Depois dos primeiros sintomas, o transtorno de estresse pós-traumático é considerado agudo se a duração for inferior a três meses, já se for superior a esse período é considerado crônico.
Tratamento
O tratamento costuma ser feito com ansiolíticos, antidepressivos e psicoterapia. A terapia cognitivo-comportamental produz resultados satisfatórios para esse tipo de transtorno psiquiátrico, utilizando técnicas de exposição prolongada à situação traumática ou imaginação ao relembrar com detalhes o evento traumático. Além de treinar o paciente para que ele se habitue às situações de estresse, ensinando técnicas de relaxamento e de restruturação de padrões cognitivos, ou seja, as formas de pensar e interpretar os fatos. A psicoterapia visa diminuir o estado ansioso, trabalhar sentimentos de culpa e raiva associados ao TEPT entre outros desconfortos, e substituir lembranças desagradáveis por positivas. É importante ressaltar que o apoio da família é fundamental durante o tratamento. Palavras de encorajamento e aceitação da vida como ela é (com todas suas imperfeições e contradições) são também essenciais para despertar um novo recomeço.
Precisamos nos proteger, o TEPT avança a cada década conforme aumenta os casos de violência. A mídia está a todo tempo anunciando de forma corriqueira conflitos, assassinatos, sequestros. O clima de insegurança por si provoca estresse prolongado nas pessoas mais sensíveis que acabam adoecendo de depressão e ansiedade, sofrendo somente de imaginar se as tragédias assistidas tivessem acontecido com elas. Por exemplo, depois do atentado às Torres Gêmeas, muitas pessoas passaram a ter medo do terrorismo e de aviões, ou mesmo aqui no Brasil, devido a vários incêndios a ônibus e arrastões em São Paulo e no Rio de Janeiro, a sensação de medo acompanha qualquer um.
Vítimas de traumas podem passar toda uma existência em sofrimento e desorientação. O transtorno de estresse pós-traumático provoca grandes sequelas e merece atenção e tratamento adequado o quanto antes.
Arte
pinturas negras, de goya
Isolado em Madri, sofrendo de uma doença grave e desconhecida, Francisco Goya retirou-se em sua casa de campo “La Quinta del Sordo” e pintou diretamente nas paredes as “Pinturas Negras” (1819-1823), essa coleção retrata a depressão do artista que estava temporariamente paralítico, parcialmente cego e totalmente surdo. Sua arte retrata a perda de controle, falta de esperança e escuridão provocada pelas dificuldades da vida. Goya não teve medo de derramar sua alma na tela e inspirou outros artistas a fazerem o mesmo.
Saturno devorando um filho – Uma das pinturas mais perturbadoras representando o deus do tempo na mitologia romana. Atormentado, Saturno necessita matar para viver. Sua própria existência, a existência do tempo, depende da morte de todos. Se ninguém morre, morre o tempo. Essa pintura desperta o horror, a tristeza e destruição. Tudo passa, tudo acaba. Saturno é terrível, porque sabemos que todos seremos devorados pelo tempo.
Átropos – Representando as Parcas, as “Moiras” da mitologia grega, vemos as três filhas da noite, as divindades que controlam o destino dos mortais e definem o curso da vida humana, decidindo sobre a vida e a morte. As três imagens femininas estão suspensas no ar e há uma quarta imagem que é do sexo masculino, suas mãos estão amarradas como se estivesse preso à elas. Todos possuem um rosto que desperta o medo. A cor predominante do quadro é ocre, mas mantêm o tom escuro característico dos outros 14 quadros da coleção.
Sugestão de filme
o homem do prego (1964)
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