Há muito que se vem tentando classificar as atitudes individuais e os padrões de comportamento, a fim de explicar as diferenças entre as pessoas. Para isso, na medicina grega antiga havia a tipologia fisiológica, segundo a qual os indivíduos eram classificados como fleumáticos, sanguíneos, coléricos ou melancólicos, com base nas denominações das secreções do corpo humano (fleuma, sangue, bílis amarela e bílis negra). Esse tipo de classificação ainda é usado na linguagem corrente, embora há muito tenha sido abolido dos conceitos medicinais.
Enquanto as antigas classificações foram feitas com base na observação de padrões de comportamento temperamental ou emocional, o modelo de Jung diz respeito ao movimento da energia psíquica e ao modo como cada indivíduo se orienta no mundo, habitual ou preferencialmente. Foram vinte anos de trabalho no campo da psicologia prática para Carl Jung desenvolver a famosa obra chamada Tipos Psicológicos.
A tipologia de Jung é um instrumento para a orientação psicológica e um guia de autoconhecimento. Trata-se de um meio de compreender tanto a si mesmo como as dificuldades de relacionamento entre as pessoas. E para facilitar o entendimento a cerca desta teoria junguiana, o autor Daryl Sharp esclarece a complexidade e suas implicações práticas.
Tipos Psicológicos de Carl Jung
Jung discrimina oito grupos tipológicos: duas atitudes da personalidade – introversão e extroversão, e quatro funções ou formas de orientação – pensamento, sensação, intuição e sentimento, cada qual operando de modo introvertido ou extrovertido.
A introversão e extroversão são formas psicológicas de adaptação. Na introversão, o movimento da energia psíquica e direcionado para o mundo interior (o sujeito e sua realidade interior), já na extroversão, a atenção é dirigida para o mundo exterior (as coisas e as outras pessoas, a realidade exterior).
A função do pensamento refere-se ao processo de pensamento cognitivo; a sensação é a percepção por meio dos órgãos dos sentidos; o sentimento é a função do julgamento ou da avaliação subjetivos e a intuição refere-se à percepção por meio do inconsciente (por exemplo, receptividade ao conteúdo do inconsciente).
INTROVERSÃO E EXTROVERSÃO
A motivação inicial que Carl Jung teve para pesquisar a tipologia foi a necessidade de entender por que a visão de Freud acerca da neurose era tão diferente da de Adler.
Freud considerava seus pacientes pessoas altamente dependentes dos objetos significativos particularmente os pais e definindo-se em relação a eles. A ênfase de Adler estava em como uma pessoa ou sujeito busca sua própria segurança e supremacia. Um supunha que o comportamento humano é condicionado pelo objeto; o outro, que o agente determinante desse comportamento é o sujeito.
Mas como aconteceu isso de cada pesquisador ver apenas um lado? Ambos estão evidentemente trabalhando com o mesmo assunto, mas, em razão das características pessoais, cada um deles vê as coisas de um ângulo diferente. Jung concluiu que essas “características pessoais” deviam-se às diferenças tipológicas: o método de Freud era predominantemente extrovertido, ao passo que o de Adler era introvertido.
A SOMBRA
Em geral, o introvertido só não tem consciência de seu lado extrovertido por orientar-se constantemente rumo ao mundo interior. A introversão do extrovertido também está adormecida, aguardando o momento de vir à tona. Possivelmente, a pessoa cuja sombra está adormecida parece-nos enfadonha e desanimada, aqui está o potencial destrutivo da sombra. O extrovertido aparenta carecer de profundidade, e o introvertido aparenta ser socialmente inepto.
A atitude não desenvolvida torna-se um aspecto da sombra, todas aquelas coisas acerca de nós mesmos das quais não temos consciência: nossa potencialidade não realizada, nossa “vida não vivida”. Além disso, sendo inconsciente, quando a atitude inferior vier à tona, atuará de um modo emocional e socialmente desajustado.
Usado com responsabilidade, o modelo de tipologia de Jung é um guia valioso da nossa inclinação psicológica dominante, do nosso modo de ser, durante a maior parte do tempo. Ele também revela, por inferência, o que nós, na maioria das vezes, não somos – mas que também poderíamos ser, aqui está o seu potencial criativo.
A atitude oposta e as funções inferiores surgem regularmente como imagens da sombra em sonhos ou fantasias. De acordo com a interpretação de Jung, todos os personagens que aparecem nos sonhos são personificações de aspectos do sonhador. A atividade de sonhar intensifica-se quando uma função geralmente não acessível à consciência é exigida.
Minha Opinião
Achei o livro muito válido para assimilar com mais facilidade a complexa teoria junguiana dos Tipos Psicológicos, a escrita é agradável e didática. Mas infelizmente minha experiência ao final do livro não foi positiva. Os trechos que li me chamaram bastante a atenção, pois remetem-se à teoria arcaica dos quatro humores corporais não mais utilizada pela Psicologia. A obra de Daryl Sharp acaba se direcionando contra o pensamento do criador Carl Jung ao enquadrar os tipos psicológicos em uma série de patologias e definições demasiadamente estereotipadas e de cunho pessoal.
Sobre as novas edições dos livros da coleção Biblioteca Cultrix de Psicologia Junguiana, eu gostei bastante. As ilustrações são inspiradoras e esclarecedoras do texto, a diagramação é confortável para ler e o tamanho do livro é um pouco menor que o tradicional, não pesa e facilita o manuseio.
Ficou com vontade de ler?
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