Mesmo antes de iniciar as aulas de Psicologia Social, eu já escutava falar sobre o polêmico experimento de Zimbardo pelos corredores da faculdade em que estudei. Até que chegou o momento de conhecer e realmente, eu entendi o motivo pelo qual esse experimento é tão conhecido e comentado até hoje.
A maldade sempre foi algo que nos despertou curiosidade, desde os contos de fadas até as histórias de horror e manchetes de crimes nos noticiários. A maldade parece uma faceta distante de nós, porém Zimbardo mostrou através de seu experimento, que maldade e crueldade não estão apenas em pessoas esteriotipadas como más. Atos cruéis podem ser praticados por qualquer ser humano e os limites para isso, não existem.
Outro fator envolvido, foi a obediência. Inspirado pelos estudos de Stanley Milgram, onde afirmava que pessoas obedecem figuras de autoridade em qualquer circunstância, mesmo que isso contrarie suas convicções morais. Philip Zimbardo se interessou e decidiu testar o comportamento de pessoas quando exercem um papel de autoridade e possuem poderes ilimitados. Em 1971, Zimbardo conduziu o polêmico e antiético, Experimento da Prisão de Stanford. Estudantes da universidade de Stanford, foram pagos para assumirem o papel de prisioneiro ou guarda, isso foi decidido através de um sorteio. Pouco depois, numa manhã de domingo, os prisioneiros foram abordados em suas casas, presos, fichados em uma delegacia de verdade e levados ao porão do departamento de psicologia de Stanford, onde já configurava uma falsa prisão.
Nessa falsa prisão, os prisioneiros foram despidos, revistados, passaram por uma inspeção para averiguar se tinham piolhos em seus cabelos, receberam uniformes e roupas de cama, tudo como pede a lei.

O experimento foi tomando uma proporção gigantesca e Zimbardo perdeu o controle do seu próprio estudo, ele mesmo não estava percebendo a gravidade dos efeitos e ficava assistindo a situação caótica, sem interromper. Os estudantes no papel de guarda passaram a não oferecer comida e as roupas de cama aos prisioneiros, estes que foram encapuzados, acorrentados e obrigados a limpar privadas com suas próprias mãos. Os guardas também usavam os prisioneiros como brinquedos, obrigando-os a participarem de jogos humilhantes.
Em apenas 36 horas, o experimento de Zimbardo já estava perigoso demais para os estudantes, fazendo um dos prisioneiros apresentar choro incontrolável, ataques de raiva e depressão profunda, tendo que ser liberado. Uma série de castigos psicológicos, físicos e sexuais foram colocados em prática pelos guardas.
Passados 6 dias, os efeitos maléficos do experimento tornaram-se nítidos, sendo bastante perturbador para a mente dos prisioneiros. A falsa prisão foi desativada e o estudo de Zimbardo, finalizado. Os prisioneiros aceitaram todos os abusos e não questionaram a autoridade dos guardas, apenas o prisioneiro que foi liberado e teve um colapso nervoso, este não aceitou as crueldades e se revoltou, contestando os atos dos guardas.
O papel dos prisioneiros se tornou tão fraco mediante a situação de submissão e humilhação que eles mesmos se prejudicavam, não conseguiam se defender e não perceberam que foram colocados um contra o outro pelos guardas. Já o papel dos guardas, conseguiu transformar o caráter daqueles estudantes que se transformaram em figuras violentas e abusadoras, somente com o uso do poder que foi dado a eles.
EXPLICAÇÃO
O experimento da Prisão de Stanford mostrou que pessoas boas podem se tornar más quando são submetidas a situações extremas, onde existe uma aparente ideologia que justifique atos cruéis através de regras e papéis. Ou seja, não importa se o indivíduo é normal e saudável, isso não será relevante quando ele deve se comportar conforme o papel social determinado. Se for um papel de poder, ele irá naturalmente usar e abusar da autoridade. Se for um papel de subordinado, ele irá se submeter à autoridade de qualquer jeito.

A força das situações sociais e do ambiente em si, como o doentio confinamento no porão de Stanford são capazes de produzir comportamentos cruéis e nos modificar para o mal. Todos nós temos os dois lados, o da maldade e bondade, a linha entre os dois é muito tênue quando a nossa identidade é retirada. Portanto, ao exercer um determinado papel social e permanecer numa situação estressante que pressiona atitudes violentas, qualquer um de nós, pode se transformar numa pessoa má que pratica até mesmo, a tortura. Esse seria o efeito Lúcifer, formulado por Zimbardo após o experimento prisional.
Nosso estudo revela o poder das forças sociais e institucionais para fazer homens bons praticar atos cruéis.
Zimbardo
Pensando nos efeitos maléficos do experimento da prisão de Stanford, podemos refletir sobre qualquer situação da vida, por exemplo: Trotes nas faculdades, onde o estudante veterano se apropria do seu papel para submeter os calouros à atitudes muitas vezes humilhantes e castigos em público, sendo proibidos em algumas faculdades, pelos fins trágicos que muitos tiveram. Revistas policiais abusivas e violentas que moradores de comunidades já relataram. Ou mesmo, podemos pensar em situações mais extremas como na Guerra do Iraque ou na Ditadura Militar, onde civis foram torturados por militares, devido à rejeição de escolhas e atos pessoais, não aceitáveis por parte das autoridades.
TRECHOS DOS REGISTROS VERÍDICOS
DICA DE FILME
Escultura “Lúcifer” de Guillaume Geefs
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