Reflexões com Sêneca: Sobre a Brevidade da Vida

Todo dia é uma nova página em branco que escrevemos nossa história para chegar a algum lugar. Terão dias que essa página vai conter apenas uma frase, outros parágrafos e nos mais excepcionais vai render capítulos de uma história a ser lembrada e contada até os seus últimos dias.

Caro leitor, você deve ter reparado que existem pessoas que precisam constantemente de adrenalina, outros nem tanto. Tenho percebido a dificuldade nos dias atuais do ser humano lidar com a monotonia. Parece que a nova patologia da mente é a insatisfação crônica. Vivemos imersos numa cultura do espetáculo, onde tudo é performático e brilhante aos olhos, somos bombardeados por dopamina todo o tempo, principalmente, nas redes sociais, fora outros estímulos que recebemos através desse formato de mídia.

Cada um se lança à vida, sofrendo da ânsia do futuro e do tédio do presente.

Sobre a brevidade da vida, por Sêneca

Dentro desta bolha chamada rede social, vive um inquieto que persegue toda novidade, toda notificação que chega. O objetivo disso é fazer o indivíduo esquecer de si mesmo e almejar apenas a vida do outro, consumir tudo o que é oferecido e estampado em telas que cabem em suas mãos e são propositalmente planejadas para serem de fácil acesso.

Também há os que se ocupam invejando o destino alheio e desprezando o seu próprio.

Sobre a brevidade da vida, por Sêneca

Esquecemos que a vida nem sempre é uma montanha-russa de emoções. Nesse exato momento, você pode sentir uma apatia que não gostaria e do outro lado, o seu vizinho está numa cadeia eventos que não deseja nem um pouco estar. Afinal, tudo é imprevisível e nem toda mudança é bem-vinda.

A filosofia do estoicismo ensina que não podemos controlar acontecimentos externos, mas podemos controlar nossas reações e atitudes em relação a eles, então aceite o que não está em suas mãos. Se o mundo é um ambiente hostil, foque em você, no que detém o controle e poder de mudar. Se o cenário político não lhe agrada, se os conflitos e as guerras que estão acontecendo lhe entristece e preocupa, não mantenha seus pensamentos nessas coisas externas, pois infelizmente não há muito o que você possa fazer, e o mundo está em constante movimento. O que não se pode reverter, deixe que o tempo cuide.

Existe um conceito da filosofia estoica chamado ataraxia, que significa imperturbabilidade, ausência de inquietação, a única felicidade possível está na ausência da dor. A serenidade de espírito é um bem precioso, a ser sempre cuidado. Você não conhece a real natureza daquilo que deseja ou teme, por isso deve praticar a ataraxia. Sua mente está constantemente produzindo visões muito positivas quando você sonha e o oposto também ocorre, ela produz uma visão muito pior sobre algo que está relacionando ao seu medo, logo tome cuidado com as ilusões.

Não é necessário morar numa casa de campo ou à beira-mar para estar em paz consigo mesmo, não há nenhum lugar mais próximo e fácil para recolher-se com tranquilidade que sua própria alma. Mas para alcançar isso, segundo os estoicos, você precisa seguir o caminho da razão, praticar o autocontrole e a autoaceitação. Agora pense… Nada mais impróprio que as redes sociais na busca dessa sabedoria e serenidade, não é mesmo?

O filósofo Sêneca defende que as pessoas não devem ser levadas pelos prazeres passageiros e pelas distrações do dia a dia. Em sua obra “Sobre a Brevidade da Vida”, o estoico Sêneca nos convida a refletir sobre a importância de aproveitar a vida ao máximo, pois ela é efêmera, pode acabar a qualquer momento. O amanhã é incerto.

Mesmo sendo mortais, ignoramos e não valorizamos o que realmente é essencial em nossa vida. Claro que parece mórbido, entretanto meditar sobre a própria mortalidade, pode nos levar a maior consciência e nos motivar à agir com propósito e apreciar mais cada dia que nasce e se põe.

O processo de envelhecimento é progressivo, as horas vão passando e levam junto aos poucos nossa vitalidade. Como todos nós morreremos, é pesado, mas podemos concluir que a vida é uma sentença de morte, não há tempo a perder. Desperdício é um pecado. 

Só nos resta encarar o tempo como nosso amigo, é o bem mais precioso e desperdiçá-lo com distrações, futilidades e preocupações mundanas, se torna um grande erro ao longo prazo, as consequências disso são irreversíveis. Como usar o seu tempo de maneira mais significativa? Os estoicos recomendavam que não nos apegássemos excessivamente aos prazeres materiais, riqueza e fama e poder, pois tudo isso será em vão.

O ócio é criativo. Contrariando a cultura de “ocupação” constante, Sêneca destaca que o ócio é necessário, porém é preciso que saiba usá-lo a seu favor, por isso a tranquilidade é fundamental para refletir sobre a vida, adquirir aprendizados e evoluir. Para colocar as ideias no lugar, às vezes, nada melhor que esvaziar a mente de todas as informações que surgem filtradas pelos algoritmos, poluindo e atrapalhando seus pensamentos, sua tomada de decisão e autoconsciência.

Curta o seu tempo aqui, mesmo que por mais sem graça possa parecer agora, talvez no futuro você sinta falta dessa calmaria… Olhe suas antigas fotos. Sente saudades do passado? Não importa como foi, sente alguma falta? Então, seu passado foi um dia o presente que já morreu. Dê a sua atenção ao momento agora.

A expectativa é o maior impedimento para viver: leva-nos para o amanhã e faz com que se perca o presente.

Sobre a brevidade da vida, por Sêneca

E se você já se pegou preocupado com a opinião alheia, em busca de aceitação social e crescente números de seguidores. Se inspire nesta última citação de Sêneca:

Perguntas-me qual foi o meu progresso?

Comecei a ser amigo de mim mesmo.

Sêneca