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Sonhar acordado é normal? Faz mal? A Psicologia explica

Ei, acorda você ainda não chegou a Marte! Gosta de usar a imaginação? Então vamos lá… Vivemos duas realidades, a que de fato acontece entorno de nós e outra que habita em nossa mente. Antes dos pensamentos se concretizarem, nossos planos e intenções já existiam, mas muitas das vontades não chegam a se tornar ação. E assim como nossas atitudes, os nossos devaneios também dizem muito sobre nós.

Seus maiores bens são os seus sonhos.

Nietzsche

Pensar nas causas de tudo o que acontece é o que nos diferencia das outras espécies, para o filósofo alemão Emmanuel Kant, a causalidade é um conhecimento a priori, ou seja, já nascemos com ele. Lembre quantas vezes ao longa da vida, você não se perguntou: “Por quê eu?”, “O que foi que eu fiz?”, “Onde eu errei”, aquela cisma do “e se…”, “e se tivesse feito isso?” ou “e se tivesse falado aquilo?”, isso sempre esteve presente, não é mesmo? Essa tormenta tem um nome e se chama “causa”, ela que nos leva ao passado. Já o sonhar acordado pode nos encaminhar ao futuro, despertar nossa criatividade e inovação, quando traçamos projetos, vislumbramos outros cenários, imaginamos outras realidades possíveis, enquanto vivemos o presente. Isso tem o poder de nos acalentar e proporcionar prazer, é nesse “consolo” que mora o perigo, mas vamos com calma…

Pense que você está viajando por uma longa estrada reta e vazia, imersos em nossos pensamentos, nos “desligamos” de certa forma do mundo exterior, o que prejudica a atenção, mas por outro lado é nesse tempo ocioso que podemos abrir a mente para novas ideias ou compreender melhor nosso pensamento.

A Psicologia explica os Sonhos 

Em A interpretação de sonhos, estudo de Freud publicado em 1900, revelou que nossos sonhos expressam os sentimentos e anseios do sistema pré-consciente/consciente. Como o homem é um animal desejante, o seu sonho é a realização disfarçada de um desejo. Sem desejo não há sonhos e com a falta de desejos nada nos move pra frente, então sonhar é auto-gratificante mesmo que o conteúdo pareça absurdo. Ao longo da história, houve relatos de que a análise dos sonhos pode originar epifanias, ideias inovadoras e realizações pessoais.

Para Freud, os sonhos agem como guardiões do sono, a função primordial é evitar que o sonhador desperte. Assim como um projetor de cinema, eles projetam imagens na “tela” da psique, configurando um caráter alucinatório. Desse modo, não são apenas os chamados de loucos (psicóticos) que experimentam as alucinações, sem estar sob efeito de drogas. O conteúdo dessas “alucinações noturnas” sofre censura para não revelar os desejos reprimidos, o que denominamos de distorção onírica, por isso quem sonha não vê sentido em nada ou acha engraçado o que sonhou. 

Atualmente, existe uma parcela da opinião científica que apenas associa os sonhos à função cerebral de processamento da memória. Diferentemente dos sonhos noturnos que ocorrem na última fase do ciclo de sono chamada REM (Rapid Eye Movement), possuindo conteúdos mais complexos que se assemelham à uma ficção, os sonhos diurnos ou devaneios ocorrem quando estamos acordados e registam uma maior incorporação de acontecimentos dos dois dias anteriores.

Durante o sonhar acordado, o contato com a realidade se torna difuso e parcialmente substituído por uma fantasia visionária, o que foi interpretado na década de 1950 como uma falha da disciplina mental, alguns psicólogos alertaram os pais para não deixar seus filhos em devaneio, por medo de que as crianças pudessem apresentar neurose e até psicose. Sigmund Freud entendia o devaneio como uma expressão dos instintos humanos reprimidos semelhantes aos sonhos noturnos.

No final da década de 1960, os psicólogos Jerome L. Singer e John S. Antrobus criaram um questionário para investigar os devaneios denominado “Inventário de Processos da Imaginação (IPI)”, posteriormente foi descoberto que as imagens dos que sonham acordados variam de duas maneiras: devaneios de bons momentos e devaneios de culpa ou medo.

Efeitos Positivos dos Devaneios 

Sonhar com os olhos abertos pode ser melhor do que deixá-los fechados. Usando sua imaginação, a criatividade ganha espaço, os pensamentos podem ficar mais claros e auxiliar a superação de alguma situação difícil. Pense quando você se encontra entediado preso no trânsito… Como seria se não pudesse divagar? No mínimo enlouquecedor. Não sei vocês, mas é esperando o sono vir que me surgem as melhorem ideias, e no banho consigo pensar de forma mais lógica a solução para os meus problemas. Como a neurociência pode explicar isso?

EXPERIMENTOS DA NEUROCIÊNCIA

Escravo dos nossos pensamentos, o cérebro nunca descansa. Antigamente, os neurocientistas reclamavam que esses devaneios eram como explosões de atividade cerebral e isso nos exames atrapalhavam os estudos de funções mentais mais importantes.

Durante muitos anos, neurocientistas realizaram pesquisas no pressuposto de que o cérebro é mais ativo quando executa uma tarefa específica. Em testes com voluntários é de costume que eles realizem alguma tarefa enquanto o cérebro é monitorado por tomografia ou ressonância magnética, para que o exame revele quais partes estão mais ativas durante determinada ação, o que possibilita compreender como isso controla o nosso comportamento.

PENSANDO NO FUTURO 

No entanto, entre um teste e outro, os pesquisadores podem pedir que o voluntário olhe para um ponto específico ou não se concentre em nada, como uma maneira de trazer o cérebro para um estado “neutro”. Mas, como cérebro simplesmente não desliga, é nesse momento das divagações que tende a se concentrar no futuro. 

Segundo o neurocientista Moshe Bar, da Faculdade de Medicina de Harvard, sonhar acordado essencialmente cria memórias de eventos que não aconteceram. É como se o cérebro fosse programado pra contemplar ‘experiências prévias’ que podemos usar para decidir como agir caso essas imaginações se tornem realidade. Por exemplo, é comum que os passageiros de avião pensem como seria sofrer um acidente aéreo, isso ocorre para que eles consigam visualizar o que de pior pode acontecer, é como guardar essa memória para auxiliar numa situação de perigo. 

SINAL DE INTELIGÊNCIA E CRIATIVIDADE 

Para tentar entender o que se passa na mente do grande sonhador, foi realizado um novo estudo por Eric Schumacher, professor no Instituto de Tecnologia de Georgia, nos Estados Unidos, publicado no periódico Neuropsychologia, onde afirma que sonhar acordado é um sinal de mais inteligência e criatividade. 

Pessoas com cérebros eficientes podem ter capacidade cerebral demais para impedir que suas mentes se dispersem.

Eric Schumacher

Schumacher e outros pesquisadores analisaram a atividade cerebral de 100 voluntários através do exame de ressonância magnética. Na primeira situação, os voluntários tinham que trabalhar na resolução de um conflito. Na segunda parte, tinham que ficar em repouso observando um ponto fixo, foi exatamente nesse momento que em alguns voluntários, foi registrada uma alta atividade cerebral.

Após isso, os voluntários foram submetidos a testes de avaliação de suas capacidades intelectuais e criativas, além de relatarem o comportamento de suas mentes durante o experimento. Os voluntários que afirmavam que se sentiram como “sonhando acordados” foram os que obtiveram os melhores resultados nos testes.

Basicamente, se o seu cérebro é eficiente ele tem propensão a ficar no “mundo da lua” durante tarefas rotineiras ou chatas, isso abre mais espaço para os pensamentos e raciocínio. Desse modo, não necessariamente alguém que divaga com facilidade possui dificuldade de prestar atenção, ao contrário isso é normal e pode ser até positivo. 

Faz mal sonhar acordado? 

Em parte, sim. Eu sei, tem horas que a realidade parece confusa demais, o mundo se torna um ambiente hostil e seus pensamentos não vão lá essas coisas, aí a única alternativa parece ser o sonhar acordado. E ainda tem aqueles que falam mal de quem é sonhador, mas eles estão em parte com razão. Assim como pensamentos ansiosos, os devaneios podem gastar muita energia com realidades que não serão concretizáveis, isso ocorre quando usamos a imaginação para não agir ou quando seus pensamentos não são viáveis, já que dependem de fatores que estão fora do seu controle e ainda sim, você insiste em não abandonar sua cisma, enquanto isso os ponteiros do relógio não param de girar, o seu presente vai sendo esquecido e é justamente nele que a vida acontece.

Parece delirante trocar o real pelo imaginário, não? Contudo tem um motivo, a vida idealizada é irresistível, convenhamos. E quando o seu momento presente está ruim, a vida que se desenrola no sonhar acordado é infinitamente melhor para compensar seus problemas atuais, por isso tome cuidado com a frustração e não crie expectativas com o que vem sonhando. Suas fantasias usadas para fugir da realidade têm grande potencial de gerar um padrão de comportamento mal-adaptativo que leva a um ciclo de desapontamento que se autoperpetua.

É importante também prestar atenção, se existe chances dessa fantasia se tornar realidade. Caso sim, o que está te impedindo de sair dessa encruzilhada? É depressão, procrastinação ou medo? Qual sensação surge só de pensar nas etapas que serão necessárias para alcançar o seu objetivo? Acho que a covardia é nossa pior inimiga, nessas horas é mais fácil sonhar do que viver, pois nos sonhos não existem fracassos ou decepções. Quando imaginamos uma viagem ao exterior, primeiro aparece na mente o destino pra só depois lembrar que existem os contratempos. E para fugir disso, o que você faz? Adia sua viagem e continua sonhando, é nessa que deixa de viver. As tão faladas metas de ano-novo, então… Quantas delas realizou?

Você está lendo um post que euzinha fiz. Que tal fazer terapia comigo?

Seja mais que um leitor. Aqui existe um espaço reservado para dar toda a atenção aos seus pensamentos. Por que deixar para amanhã o que você pode mudar hoje? Cuide da sua saúde mental, invista em você!

 

O QUE FAZER NAS HORAS DISPERSAS?

A importância dos sonhos é despertar em nós a motivação de buscar uma vida melhor. Para isso se tornar realidade é preciso transformar um sonho num objetivo e em metas, coloque passo a passo no papel e já vai se organizando para concluí-lo. Isso nos conduz e dá confiança de que é possível alcançar a vida que desejamos.

Está entediado ou sem direção, então procure manter sua mente ocupada com atividades que agregam valor e te façam sentir produtivo. Escreva uma lista de tarefas que precisa concluir no seu dia, coloque as ideias no lugar, tenha controle sob suas ações e não caia em divagações. Consuma o seu tempo livre com leituras ou documentários que estimulem a criatividade e ampliem seu repertório de conhecimento. Não consegue manter a atenção? Mantenha então seu corpo movimento, caminhe ou corra, pratique atividades manuais, assim também é possível libertar a mente para te surpreender com uma ideia fantástica, o momento eureka.  

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Salvador Dalí

A Influência de Freud nas Obras de Salvador Dalí 

Desde a Antiguidade as pessoas têm curiosidade em decifrar os sonhos. Há quem acredite em um caráter profético das cenas oníricas, particularmente entre os judeus e os egípcios, os sonhos eram considerados como mensagens divinas e como uma forma de se comunicar com o sobrenatural. Somente durante o século XIX que esse fenômeno começou a ser estudado por Sigmund Freud, descobrindo um espaço na mente humana até então oculto o chamado inconsciente e é através dos conteúdos oníricos que ele se revela, manifestando os sintomas neuróticos. Freud logo deu início à interpretação dos sonhos para desvendar a causa das neuroses de seus pacientes.

Curiosamente, uma figura muito ilustre e excêntrica foi influenciada pelas teorias freudianas, nada mais nada menos que Salvador Dalí. Fazendo parte do movimento surrealista, por volta de 1920, a intenção era expressar através da arte o inconsciente, por meio disso, Dalí explorou seus sonhos em suas telas de forma mais legítima possível, o que tornou sua arte inigualável.

Um dia terá que ser admitido oficialmente que o que batizamos de realidade é uma ilusão até maior do que o mundo dos sonhos.

Salvador Dalí

Observe o trabalho de Salvador Dalí que está acima desse post. Este é o “Sonho causado pelo voo de uma abelha em torno de uma romã um segundo antes de acordar” (1944). Da mesma forma que a maior parte de suas criações, nesta pintura Dalí explora o mundo onírico utilizando distorções da realidade. Como foi aprendido ao ler as obras de Freud, muitos dos nossos sonhos são estimulados por cheiros, sons e presenças exteriores, assim como o zumbido daquela abelha minúscula que está representada próxima de Gala (esposa de Dalí) enquanto dorme, já a romã simboliza a deusa Vênus e a figura da mulher é a fertilidade e sexualidade fazendo contraste com as criaturas pitorescas. Podemos interpretar também que essa pintura é uma representação da teoria da evolução darwiniana. Enfim, no mundo das artes e dos sonhos, tudo é possível.

ALUCINAÇÕES: MÉTODO HIPNAGÓGICO DAS MENTES CRIATIVAS  

O método de Salvador Dalí, descrito como “o cochilo vertical hipnagógico”, procurou transcender o mundo da razão, remover os filtros da lógica para deixar sua mente mais livre e receptiva à novas ideias e assim capturar o mundo onírico e torná-lo seu, trazendo seus sentimentos mais profundos à luz e transformando-os em arte. O grande surrealista era um explorador da psique humana, ele criava o que chamou de fotografias de sonhos pintadas à mão, realidades em momentos bizarros, panoramas assustadores, hipnóticos, que ainda hoje despertam o fascínio de todos.

Dalí tirava um cochilo e junto levava uma colher, isso mesmo que você leu, uma colher. O ritual era o seguinte: após comer sua refeição, ele se sentava numa poltrona, em uma das mãos segurava a colher e deixava na direção dela um prato no chão, assim quando relaxado, alcançasse o sono mais profundo era acordado pelo barulho da colher ao cair da mão e bater no prato. Esse cochilo durava alguns minutos porque o propósito não era dormir, mas alcançar o estado hipnagógico, ou seja, navegar entre o sono e a vigília, nesse espaço intermediário que podem surgir as breves alucinações visuais e auditivas, a partir disso que Salvador Dalí mostrou ao mundo suas criações mais estranhas e fora do comum.

As alucinações hipnagógicas são mais experimentadas por crianças e adolescentes. Dorfman, Kihlstrom e Shames foram alguns dos estudiosos desse fenômeno, durante o estado hipnagógico a mente começa a criar múltiplas associações entre memórias, intuições, emoções, pensamentos e estímulos externos, até formar um totum revolutum (conjunto de coisas desordenadas ou desarticuladas, uma confusão) excepcional com pleno significado dentro desse universo pré-consciente, assim é possível a pessoa alcançar um sentimento de conhecimento absoluto, uma iluminação. Entretanto, quando a pessoa acorda, logo essas imagens são diluídas para serem completamente esquecidas, por isso é sempre bom ter um caderninho por perto e registrar seus sonhos e as ideias que deles produzirem.

Você tem que criar a confusão sistematicamente, isso liberta a criatividade. Tudo o que é contraditório cria vida.

Salvador Dalí

Agora me conte, você se considera um grande sonhador?

Espero que esse conteúdo ilumine sua mente, que seja insight!

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