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A História de Vida do Cinéfilo Rebelde, François Truffaut

J’ai toujours préféré le reflet de la vie à la vie elle-même.

Sempre preferi a reflexão da vida à própria vida.

Truffaut

Cineasta francês mais prestigiado de todos os tempos, François Truffaut também foi roteirista, produtor e ator. Em 26 anos de carreira, ele realizou 21 longas e dois curtas-metragens. Seu tema favorito? O amor e seus desencontros. Ao lado de Jean-Luc Godard, Claude Chabrol, Agnès Varda, Alain Resnais, Eric Rohmer, Jacques Rivette e outros, Truffaut foi uma das figuras mais importantes da Nouvelle Vague francesa, inspirando diretores como Steven Spielberg, Quentin Tarantino, Brian De Palma, Martin Scorsese e Wes Anderson. 

Engana-se quem pensa que a vida do talentoso Truffaut foi fácil. Nascido na capital francesa em 6 de fevereiro de 1932, François Roland Truffaut era filho de operários pobres Roland Lévy e Jeanine de Montferrand. Sem nunca ter conhecido o pai biológico, o menino foi criado pelos avós maternos, já que sua mãe o rejeitara. Enquanto o avô era um homem rígido, a avó influenciou o neto a paixão pela literatura e música.

Aos 7 anos de idade, François Truffaut já assistia a filmes assiduamente, seu interesse pelo cinema se desenvolveu após conhecer a obra Paraíso Perdido (1940) de Abel Gance. Com 10 anos, o menino perdeu a avó e teve que morar com a mãe, que estava casada com Roland Truffaut, um arquiteto católico. Este acabou registrando o enteado com o seu sobrenome, e se sentiu livre para destratá-lo junto com a esposa.

Durante a infância, Truffaut enfrentou muitos conflitos familiares que, entre outras razões, o levaram ao caminho da delinquência. Sempre faltando às aulas da escola para ir ao cinema com seu melhor amigo, Robert Lachenay, aos 14 anos, o rebelde Truffaut abandonou os estudos e tentou sobreviver nas ruas de Paris, praticando furtos e atos de vandalismo. Esse período conturbado, serviu de inspiração para criar seu primeiro filme e autobiográfico, Os Incompreendidos. 

François Truffaut possuía uma ambição imensa pelo cinema, mas era regido por pulsões destrutivas e sombrias. Em 1947, com apenas 15 anos de idade, ele fundou seu cineclube chamado Cercle Cinémane, entretanto não tinha como disputar com o Travail et Culture, o cineclube de André Bazin, um escritor e crítico de cinema conceituado. Quando soube que o sonho de Truffaut estava prestes a acabar, Bazin conversou com o jovem cinéfilo e passou a guiá-lo como um mestre, ensinando tudo sobre a sétima arte. Nessa época, Truffaut se esforçava para assistir a três filmes por dia e ler três livros por semana. 

Insatisfeito, o pai adotivo Roland Truffaut exigiu que o François arrumasse um emprego e abandonasse o cineclube, porém como ele descumpriu o acordo que fez, Roland Truffaut o internou em um reformatório juvenil de Villejuif e passou sua custódia para a polícia. Os psicólogos do reformatório entraram em contato com André Bazin, que prometeu dar um emprego a Truffaut no Travail et Culture. Sob liberdade condicional, o cinéfilo rebelde foi internado em um lar religioso de Versailles, todavia seis meses depois foi expulso por mau comportamento.

Independência

Secretário pessoal de André Bazin, aos 18 anos, François Truffaut obteve a emancipação legal dos pais. Nesse período, ele começou a trabalhar como crítico participando do Ciné Club du Quartier Latin, boletim sobre cinema coordenado por Eric Rohmer (também sou fã ^•^). Seu primeiro artigo escrito foi sobre a obra clássica A regra do jogo, de Jean Renoir. Em abril de 1950, Truffaut foi contratado como jornalista pela revista Elle e considerado o crítico mais influente de sua época.

No entanto, Truffaut tomou uma decisão inesperada, que ninguém entendeu, ele abandonou tudo e alistou-se nas Forças Armadas francesas. Não demorou muito para se arrepender, planejou uma fuga, mas foi preso por tentativa de deserção. André Bazin entrou em cena novamente para defender o rebelde cinéfilo, somente depois de dois anos, ele conseguiu se livrar do serviço militar.

Desempregado, Truffaut aceitou morar com a família de Bazin e escrevia artigos como freelancer, no total foram 170 publicados, a maioria críticas de filmes ou entrevistas com diretores, inclusive, alguns se tornaram seus amigos, como Roberto Rossellini, Jean Renoir e Max Ophuls. Em maio de 1955, Truffaut publicou o conto “Antoine et l’Orpheline” na La Parisienne, e fez sua primeira entrevista com seu ídolo, Alfred Hitchcock, em Paris, para a Cahiers Du Cinéma (revista criada por Bazin). No ano seguinte, ele foi assistente de produção de Rossellini e em seguida, fundou sua própria companhia de cinema, a Les films du Carrosse.

No final dos anos 50, Truffaut tornou-se diretor em curtas-metragens como Une Histoire D’Eau (Uma História da Água) co-dirigido por Jean-Luc Godard. Em 1959, foi lançado seu primeiro e aclamado filme, Os Incompreendidos, que recebeu diversos prêmios. No ano de 1960, ao lado dos cineastas Jean-Luc Godard, Jaques Rivette e Eric Rohmer, críticos da Cahiers du Cinema, ele fundou o movimento Nouvelle Vague, que marcou a história do cinema, mudando o formato tradicional dos filmes franceses.

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Jean-Luc Godard & Truffaut
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Jacques Assuerus, Truffaut e Clerval
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Personagem Antoine Doinel – filme Os Incompreendidos

Os Incompreendidos

Aos 27 anos, François Truffaut conquistou a atenção de grandes diretores como Hitchcock, Rossellini e Renoir com o seu primeiro longa-metragem Os Incompreendidos (Les 400 coups) que conta a história de vida do cineasta, interpretado por Jean-Pierre Léaud no personagem Antoine Doinel, um adolescente cheio de angústias, desolado, vivendo um inferno dentro de casa com sua mãe e padrasto, odeia a escola e amadurece na marra ao aprender as leis das ruas de Paris. O ator Jean-Pierre Léaud voltou a interpretar Doinel mais quatro vezes para Truffaut, em: “Antoine e Colette” (1962); “Beijos proibidos” (1968); “Domicílio conjugal” (1970); e “Amor em fuga” (1979). Com essa série, Truffaut fez algo incomum no cinema: falou sobre amor e relacionamentos com uma leveza admirável mesmo nas situações mais problemáticas. 

Nouvelle Vague

Antes do surgimento da Nouvelle Vague francesa, os diretores preferiam trabalhar em estúdios, pois isso permitia um controle maior do som, luz, movimentos de câmera e etc. Contudo, para François Truffaut e os demais fanáticos por cinema, esse método produzia filmes artificiais e tediosos. Quando esses jovens críticos apadrinhados por André Bazin, resolveram deixar de lado as máquinas de escrever para carregar câmeras filmadoras, o mundo viu surgir uma série de filmes e um bando de cineastas que ficariam conhecidos como a Nouvelle Vague (Nova Onda).

Seguindo um método revolucionário, ousados, os cineastas da nova onda filmavam nas ruas, muitas vezes com som direto (e não com o elenco dublando a si mesmo em estúdio na pós-produção, como ocorria nos filmes de Fellini, por exemplo). Eles defendiam a produção autoral de filmes intimistas e de baixo custo, abordavam temas como amor e sexo, política e morte, tudo era válido para render uma boa história e incluir a cultura popular no cinema.

Durante as filmagens, Truffaut amou várias de suas atrizes e elas retribuíram esse amor, uma delas foi Jeanne Moreau, então casada com o estilista Pierre Cardin, essa paixão brotou nos bastidores de Jules e Jim – Uma Mulher para Dois, o filme foi considerado indecente para a época, baseado num romance Henri-Pierre Roché, conta a história de um triângulo amoroso entre Jules (Oskar Werner), Jim (Henri Serre) e Catherine (Jeanne Moreau).

Outra coisa curiosa, era a habilidade extraordinária do cineasta ao dirigir crianças, uma de suas maiores descobertas foi o ator Jean-Pierre Léaud, que encarnou o alter ego de François Truffaut: o personagem Antoine Doinel está marcado em vários de seus filmes e podemos acompanhar o seu crescimento até os dilemas da fase adulta.

Enquanto, seu amigo, Jean-Luc Godard incluía a política em seus filmes, François Truffaut se tornava mais poético a cada trabalho, isso não só levou ao afastamento profissional quanto pessoal. Apesar disso, depois da saga autobiográfica de Antoine Doinel, o cineasta abriu uma exceção em 1966, quando filmou Fahrenheit 451, um pesadelo futurista baseado no romance de Ray Bradbury, a obra aborda o amor aos livros num futuro totalitário em que eles são sistematicamente queimados, nos papéis principais estão Oskar Werner e Julie Christie. “Por que não popularizar, com a ajuda do cinema, bons títulos literários”, disse Truffaut, mestre em adaptar obras literárias à linguagem cinematográfica.

Colecionando vários sucessos, do drama social de Os Incompreendidos à violência da guerra em O Último Metrô, do romance progressista de Jules e Jim – Uma Mulher para Dois ao drama afetivo de A Mulher do Lado, é perceptível observar diferentes narrativas unidas em torno de situações similares, em diversas épocas e contextos, a partir das escolhas de um cineasta que, priorizava destacar as humanidades e fragilidades em seus personagens principais.

Oscar

Em 1974, Truffaut ganhou a estatueta do Oscar de melhor filme estrangeiro com A Noite Americana, uma bela crônica de amor ao cinema e do descontrole do criador sobre a sua obra, por esse motivo ninguém melhor que ele próprio para interpretar o protagonista dessa história, utilizando a técnica de iluminação para simular a noite em filmagens durante o dia, Truffaut revelou os problemas de terminar um filme e ao mesmo tempo lidar com relacionamentos pessoais e profissionais difíceis.

Cinéfilo desde criança, François Truffaut afirmou em 1975, numa entrevista durante o lançamento de A História de Adèle H., que assistiu 15.000 filmes e mesmo sendo autêntico e reconhecido por sua originalidade, às vezes tinha a impressão de que seus trabalhos eram colagens do que fizeram antes outros cineastas. No final dos anos 70, ao falar de Alfred Hitchcock, sua grande inspiração e tema de estudo, a uma plateia do American Film Institute, o cineasta resumiu como identificar a qualidade de uma obra: “Um filme é bom quando conseguimos perceber entre as imagens o medo ou o prazer do autor”.

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Morte

Após meses sofrendo com fortes dores de cabeça, François Truffaut foi diagnosticado com tumor cerebral. Mesmo doente, ele desejou escrever uma autobiografia antes de partir, mas não conseguiu. No dia 21 de outubro de 1984, ele faleceu aos 52 anos de idade, deixando um legado imenso.

Foram 25 anos intensos de dedicação ao cinema, muitos obstáculos enfrentados antes de alcançar a fama, rendendo vários clássicos da arte cinematográfica. Truffaut manteve durante toda a sua carreira suas paixões: o cinema, os livros e as mulheres, em cada filme podemos compreender o cineasta francês e ser testemunha de alguma fase de sua vida pessoal por trás das histórias criadas. Vale a pena conhecê-lo. Quem tiver interesse, listei alguns dos filmes, os melhores (na minha opinião), para ler, clique aqui!

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