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O Eterno Marido, por Fiodor Dostoiévski

Publicada em 1870, a novela O Eterno Marido é a demonstração de um conflito psicológico intrigante e envolvente entre o amante (Aleksei Ivánovitch Veltchanínov) e o marido traído (Pável Pávlovitch Trussótski) da falecida, Natália Vassílievna. Tudo começa com o reencontro, após quase uma década, das duas figuras masculinas, o viúvo e o ex-amante. Eles relembram do passado e vivem momentos de extrema emoção e ódio. O fio condutor da história será o diálogo entre os dois, assim Dostoiévski explora temas, como: casamento, moralidade, amor erótico, traição, vingança, tortura mental e neurose.

Anos 50, caminhando pelas ruas de São Petersburgo, Aleksei Ivánovitch Veltchanínov, um homem de alma inquieta e preocupado com uma questão jurídica (posse de uma propriedade), é seguido e assediado pela presença de um estranho homem que usa uma faixa de luto no chapéu. Durante a noite, esse estranho personagem bate à sua porta, Veltchanínov suspeita que é o viúvo de sua antiga amante. Mesmo após a morte da esposa infiel, Pável Pávlovitch não conseguiu desfazer-se da obsessão e curiosidade pelo ex-amante, Veltchanínov. Na dúvida se o viúvo descobriu a traição. Os dois homens acabam estabelecendo um intenso debate intelectual, que os levará a conclusões devastadoras. É a partir desse enredo que Dostoiévski reflete sobre a dualidade do amor, a fatalidade das relações humanas e uma tendência para a reprodução de comportamentos de humilhação e fracasso.

A narrativa concentra-se em dois pontos: a descrição da perda de dignidade do marido traído e o desejo de vingança. Através de várias cartas deixadas pela esposa que falecera, o ingênuo Pável Pávlovitch descobre que ela se entregara a inúmeros outros homens. Ao saber que viveu uma mentira, foi enganado a todo tempo por sua mulher, o eterno marido desmorona em vícios, tornando-se um homem agressivo e sórdido, que pernoita com prostitutas e é invadido por pensamentos suicidas.

A figura fantasmagórica de Natália Vassílievna assombra a mente de Pável Pávlovitch, atormentado ele anda pelas ruas da cidade de São Petersburgo com sua filha Liza para encontrar os amantes da falecida esposa. Com sede de vingança, ele acaba gerando remorso e constrangimento nos rivais, que são obrigados a lidar com o retorno indesejado do passado.

Dostoiévski conduz seus personagens pelo fio tênue da dúvida e mergulha nas profundezas de uma mente culpada. O viúvo passa a desconfiar da paternidade de Liza, uma menina de saúde frágil que acaba sofrendo com as consequências da traição conjugal. Seu pai, Pável Pávlovitch, que antes a amava e protegia, se tornou um pai violento e desequilibrado, sendo maltratada e jogada de canto em canto.

Numa época que os matrimônios eram regidos por interesses familiares e patrimoniais, em meados do século XIX, o tema triângulo amoroso (marido, mulher e amante) era muito explorado pela literatura europeia. Neste conto, Dostoiévski trata disso através da voz do personagem Veltchanínov, um homem lamuriento, melancólico, hipocondríaco, que sofre com insônia e tem sonhos perturbadores, por estar angustiado e arrependido pelas atitudes que tomou no passado. Quando jovem, pertenceu à alta sociedade russa, era bonito, arrogante e niilista, levava uma vida cheia de excessos e sem moralidade, gostava de se relacionar com mulheres casadas, inclusive, fazia amizade com os maridos traídos, e agora é confrontado pelo ex-marido de uma delas, que está de luto pela morte da esposa a quem venerava.

Uma espécie de Madame Bovary russa. Em O Eterno Marido, Dostoiévski escreve sobre adultério feminino e transfere às suas mulheres qualidades tidas como masculinas. O caráter decidido e dominador de Natália Vassílievna faz com que suas infidelidades jamais pesem na consciência. A esposa do eterno marido o trai com os amigos em comum, estando sempre pronta a denunciar a depravação dos costumes.

Considerado um dos romances curtos mais bem sucedidos de Dostoiévski. Em O Eterno Marido, o autor russo desenvolve os dilemas e sentimentos envolvidos desde o começo de uma desconfiança da infidelidade até o momento da descoberta da traição e o surgimento do desejo de matar o rival. O ciúme é elaborado em função de um personagem cheio de fragilidades como Pável Pávlovitch, propenso a uma passividade que o expõe ao ridículo, e as suas tentativas de abafar os seus ressentimentos e alcançar a felicidade a todo o custo. A obra escrita em três meses quando Dostoiévski não possuía dinheiro nem para colocar seu manuscrito no correio rendeu um clima de sarcasmo, ironia que beira a loucura.

Ao mesmo tempo em que Pável Pávlovitch e Veltchanínov parecem se odiar e temer, comportam-se como antigos amigos, quase que confidentes, entretanto os segredos são mantidos longe um do outro. O poder das relações emaranhadas e a imprevisibilidade do comportamento das pessoas serão analisados brilhantemente em O Eterno Marido.

Dostoiévski foi em muitos aspectos um precursor do pensamento de Sigmund Freud pela admirável compreensão das motivações profundas e não conscientes, do sofrimento psíquico, da linguagem dos sonhos, dos sinais de loucura que caracterizam os comportamentos. O autor russo captou o abismo que há dentro de nós, a natureza humana e a capacidade de fazer o bem e o mal. Acompanharemos nesta leitura as peculiaridades e fraquezas do caráter humano. Pável Pávlovitch é o eterno marido, pois se dedica constantemente a fazer de tudo pela pessoa amada, sem muito senso crítico.

o eterno marido

O monstro mais monstruoso é um monstro com sentimentos nobres; eu sei disso por experiência própria, Pável Pávlovitch! Para o monstro, a natureza não é mãe carinhosa, mas sim madrasta. A natureza cria monstros, mas não para ter pena, e sim para dar cabo deles… e com razão. Hoje em dia, abraços e lágrimas de perdão não saem barato nem para pessoas decentes, quanto mais para gente como eu e você, Pável Pávlovitch!

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