Meu Amigo Totoro (1988) é uma das obras-primas de Hayao Miyazaki. Como de costume, o diretor aborda temas complexos com muita leveza, através do espírito aventureiro da criança. Fantasia e otimismo possibilitam enfrentar as mudanças da vida e os sentimentos negativos. Aqui o universo imaginário que Hayao Miyazaki propõe serve como uma válvula de escape. Quem disse que a infância não tem algo a ensinar?
Uma parte desta história foi inspirada numa fase triste da infância do diretor japonês. Muito novo, ele teve que lidar com a ausência da mãe, enquanto ela esteve hospitalizada com uma forte tuberculose espinhal.
Em “Meu Amigo Totoro”, Satsuki, Mei e Tatsuo Kusakabe formam um núcleo familiar incompleto pela ausência da mãe, Yasuko, que está doente no hospital. Durante o período de internação, o pai (Tatsuo) se muda com as filhas para uma casa antiga em Tokorozawa. A cidade do filme existe, é repleta de terrenos agrícolas e o próprio Hayao Miyazaki viveu por lá.
Ao chegar na casa, as crianças logo se deparam com seres estranhos parecidos com “poeirinhas” pretas que se movem pelas paredes. A casa é cercada pela mata e próximo vive Totoro. Mei, a irmã mais nova, de quatro anos, é a primeira a encontrar essa criatura mágica e se afeiçoa imediatamente. Depois a irmã mais velha de 10 anos, Satsuki, também o conhece e surge uma linda amizade entre os três.
Mei é inquieta, está sempre correndo em busca de novidades. A pequena Mei representa a liberdade e alegria, ela passa a maior parte do tempo se aventurando pelos campos, enquanto sua irmã está na escola e o pai trabalhando como professor numa universidade.
Esta história é principalmente sobre a relação das irmãs com os espíritos da floresta. O filme brinca com os limites entre realidade e ilusão, despertando a dúvida no espectador se os acontecimentos são reais ou frutos da imaginação das crianças. O clima é de mistério e fantasia. A única certeza que temos é que Mei e Satsuki podem ver as criaturas da floresta. A questão é: Por que somente elas enxergam? Talvez para enxergar, seja preciso a inocência e criatividade muito presentes nas irmãs.
Totoro parece servir como uma bengala emocional para colorir a realidade triste das crianças. A figura grandiosa dessa criatura de aparência com traços de raposa, coruja e gato, acolhe as irmãs dando a sensação de conforto, segurança e companheirismo. Totoro é o amigo que elas precisavam para lidar com a insegurança e dor de não ter a mãe por perto.
Podendo voar e tendo como parceiro um ônibus em formato de gato, Totoro não só representa a abundância da natureza que acalma as meninas nos momentos mais difíceis como também proporciona algumas aventuras ao longo do filme.
É interessante perceber a semelhança entre “Meu Amigo Totoro” e “Alice no País das Maravilhas”. O comportamento curioso de Mei é igual ao de Alice: ambas perseguem criaturas fantásticas, sofrem uma queda ao entrarem num buraco e deparam-se com uma realidade paralela. O sorriso de Totoro e do ‘Catbus’ também lembram o gato Cheshire de Alice.
“Meu Amigo Totoro” resgata as lendas de espíritos das florestas, a cultura antiga do Japão. Para a elaboração desta história, o diretor Hayao Miyazaki baseou-se no Xintoísmo – uma filosofia japonesa que propõe o culto à natureza, aos antepassados. Totoro simboliza as energias e os espíritos protetores da floresta. Partindo da crença xintoísta, tanto Totoro quanto suas miniaturas e o Catbus existem e estão de fato habitando aquele lugar, mas invisíveis aos olhos da maioria. Os espíritos da floresta estão zelando pelas irmãs Mei e Satsuki.
A pureza e amizade de Totoro com as irmãs, revelam a esperança de uma convivência harmônica e equilibrada entre o mundo dos homens e a natureza. Mesmo sendo um filme infantil, é possível fazer muitas leituras.
Como cada ser humano lida com suas dificuldades, a partir da maturidade emocional e de acordo com o seu papel na família. Enquanto Mei, se permite sentir muito mais a falta da presença materna ao se queixar e chorar. Satsuki, a mais velha, sente a necessidade de se colocar como responsável e não demonstrar tanto o seu desespero e insegurança para não afetar negativamente a irmã mais nova, reprimindo assim suas fragilidades.
Uma história sensível sobre as mudanças e adversidades da vida. Há muita simplicidade e sentimentos, que nos remetem àquele período que enxergamos o mundo ainda com ingenuidade e plena admiração que só o olhar de uma criança é capaz de produzir.
Quem ainda não assistiu, o filme “Meu Amigo Totoro” está disponível na Netflix
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Gostei muito dessa animação, e uma das coisas que me fez gostar é seu ar de cotidiano, é uma animação bastante calma e simples, mostrando o cotidiano, a vida dos personagens no campo, esse mesmo cotidiano, onde vamos conhecendo os moradores da vila ou cidade, também tem na animação O Serviços de Entregas da Kiki e Memórias de Ontem.
Apesar da fantasia, são animações que focam bastante na vida diária dos personagens, e acho isso muito legal.
Gosto muito de animação japonesa e queria escrever uma matéria sobre Boogiepop Phantom, Serial Experiments Lain e Jigoku Shoujo. Mas são tantos temas complexos abordados por essas animações que não sei por onde começar (sua análise do Filme Meu Amigo Totoro ficou muito boa), sem contar que pra mim falar sobre eles, eu teria que fazer uma viagem interior e trazer pensamentos que não quero resgatar, é por isso que demoro pra escrever algo, especificamente sobre o tema terror.
Até hoje quero fazer uma matéria sobre a série de filmes Whispering Corridors, principalmente o quarto filme Voice que é uma obra prima entre drama e terror, (que recomendo assistir), mas ainda não consegui escrever sobre essa série, primeiro que pra escrever sobre ela seria uma matéria muito extensa pela profundidade dos personagens, e segundo que não quero entrar em conflito, e todos os textos de meu blog que abordam o tema terror nasceram de meus conflitos, a dor é criativa, e sem ela a razão dos textos perdem o sentido.
Mas porque tem que ser assim, sabe, as vezes me pergunto, porque quase tudo que faço tem que ser fruto de alguma dor ou conflito? Eu não quero isso mas ao mesmo tempo sem a dor eu não teria criado quase nada, e isso me deixa louco. Eu me sinto feliz no que faço, mas nem tanto nos temas abordados.
Meus personagens de meus livrinhos infantis nasceram pela necessidade de me expressar, personagens que teoricamente eram para serem de histórias infantis começaram a carregar traumas, e percebendo o rumo que as histórias estavam seguindo guardei essas narrativas e comecei do zero, e preferi não divulgá-las, percebi que são apenas crianças, tenho que deixá-las serem apenas crianças, e por algum motivo falar sobre crianças me conforta, então quero manter essa alegria nelas.
Enfim, tenho certeza que Charles Schulz também não produzia seu trabalho a base de sorrisos e euforia, mas prefiro a alegria dos filmes de Hayao Miyazaki, que me parece um artista que se diverte criando seus filmes e personagens, é isso que quero fazer, me divertir, é como você disse sobre Miyazaki, “o diretor aborda temas complexos com muita leveza, através do espírito aventureiro da criança”, e apesar dos momentos tristes, suas histórias são sempre otimistas e engraçadas, “Uma parte desta história foi inspirada numa fase triste da infância do diretor japonês”, ele faz as crianças serem crianças, e não pesadas psicologicamente como as vezes Charles Schulz faz, apesar dele também usar a inocência e a alegria delas, (não que Charles Schulz não se diverta, mas sua produção carrega muito de seus conflitos).
Numa entrevista Charles Schuz diz, “A felicidade não é engraçada”. E ele tem razão, como disse uma vez, as melhores alegrias surgem após um momento de dor.
Mas não me arrependo de nada que criei, mesmo algumas dessas criações terem nascido de conflitos.
Assista a animação Twin Spica, é uma animação muito especial pra mim, ela fala sobre perdas, tenho um carinho especial pela protagonista Asumi, ela é tão esperançosa em meio a tristeza.
É uma história dramática mas bastante delicada, fiz uma música em homenagem a ela, e ela também foi inspiração para uma personagem que criei chamada Sofia.
Ouça a música Sumiko Yamagata – Red flower white flower, ela lembra as músicas dos filmes Ghibli, por ser doce e calma, pela melodia também. E por ela causar uma sensação de nostalgia, acho que se encaixa no filme Memórias de Ontem.
Parabéns pelo texto.
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Geralmente, colocamos nossas vivências na escrita, isso é ótimo e terapêutico. Claro que, quando não nos forçamos a escrever algo traumático. O importante é expressar seus pensamentos e sentimentos quando estiver pronto e à vontade. Se a sua motivação maior é essa, não há problema nisso, mesmo que sejam textos mais carregados, entretanto se isso estiver te incomodando no momento de criar e desenvolver seus personagens e posts no blog, tente se cercar de um ambiente leve e agradável como a natureza, por exemplo. Pode ser uma boa inspiração ;)
Obrigada por compartilhar sua opinião e sugestões!
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