Ródion Ramanovich Raskolnikov é o personagem principal do romance Crime e Castigo, ele é um ex-estudante muito inteligente, que vive isolado num minúsculo apartamento em São Petersburgo. Sem conseguir financiar seus estudos, uma ideia começar a se tornar obsessiva, Ródion acredita que está destinado a grandes ações, porém sua condição de pobreza está o impedindo de atingir seu grande potencial.
O início desse romance poderia ser de muita gente, Raskólnikov foi morar na cidade grande para estudar. Passando por dificuldades financeiras, sem condições de sequer levar uma vida digna, ela tranca o curso de direito. Sua mãe recebia anualmente uma pequena pensão, que não permitiu mais ajudar o filho, então escreve uma carta a ele contando que sua irmã irá se casar com um homem bem afortunado e que assim salvaria a família da pobreza. Revoltado. Para poupar o resto de dinheiro da mãe e impedir sua irmã de se vender. Ele então arquiteta e executa o assassinato de uma senhora idosa usurária que vive de penhores, conseguindo assim dinheiro suficiente para salvar sua família, porém durante a cena do crime aparece de forma inesperada a irmã da idosa, então ele comete duplo homicídio. Ninguém testemunha o crime e outro homem é preso em seu lugar, Raskólnikov não consegue conviver com a consciência tranquila, depois de muito sofrimento, ele confessa ser o autor do crime. Arrependido, ele termina preso na Sibéria, pedindo perdão.
Ao ler algumas páginas de Crime e Castigo fica nítido que a trama está em segundo plano. Dentro do Realismo Psicológico, Dostoiévski priorizou os traços de personalidade e os sentimentos mais íntimos dos personagens, destacando os pensamentos conscientes pela via das motivações inconscientes.
O verão em São Petersburgo é o ambiente onde se passa a trama, acompanhamos o clima das relações, conflitos e a situação social em que os dramas mentais se desenvolvem. O cenário agitado e sufocante da cidade reflete o drama e a mente atormentada de Raskólnikov.
Começou com a concepção dos socialistas. Uma concepção conhecida: o crime é um protesto contra a anormalidade do sistema social e só, nada mais (…) para eles ‘o indivíduo é vitima do seu meio’ (…) Daí se deduz diretamente que, caso se construa a sociedade de maneira correta, todos os crimes desaparecerão de um só golpe, uma vez que não haverá contra o que protestar e em um instante todos os homens se tornarão justos. Não se leva a natureza em conta.
A pobreza de Raskólnikov permeia todo o romance, a intenção é fazer o leitor ter o mesmo olhar do estudante na miséria, visualizando mentalmente a cidade de São Petersburgo, onde muitos lutam contra a fome, atormentados em busca de sobrevivência.
Por estar na miséria um indivíduo não é nem expulso a pauladas, mas varrido do convívio humano a vassouradas para que a coisa seja mais ofensiva; o que é justo, porque na miséria eu sou o primeiro a estar pronto para ofender a mim mesmo.
Dostoiévski apresenta alguns motivos para o assassinato, como:
Justiça– o estudante acredita que está fazendo um bem à sociedade ao assassinar a idosa má e usar seus bens para beneficiar outros que também estão em situação de miséria como ele.
Poder– Raskólnikov ultrapassa seus limites, a culpa e moral para se tornar um “super-homem” acima do bem e do mal.
Falta de religião– o estudante não tem nenhuma crença ou qualquer estrutura moral, e espera que durante o castigo encontre a redenção.
Insanidade– sobrecarregado por uma mente perturbada, cismado em matar a idosa, ele pratica o crime para recuperar o controle de si mesmo.
O nome Raskólnikov significa homem cindido, entre dois princípios opostos: o ético torna o personagem solidário, doando seus últimos centavos aos mais necessitados, já o antiético faz dele um individualista e assassino para testar sua própria teoria e derramar sangue em nome de uma causa. Sua consciência cindida faz ele dividir o mundo em indivíduos ordinários e extraordinários. No artigo escrito por ele, os indivíduos ordinários devem viver na obediência e não têm o direito de infringir a lei, ao contrário dos extraordinários, estes podem tudo, não existe limites para seus feitos.

Raskólnikov se sensibiliza pela condição miserável dos outros, por isso ele dá o seu dinheiro sem esperar nada em troca. Ele tem uma raiva dentro de si muito grande de pessoas exploradoras (como considera a idosa assassinada) que se enriquecem com a desgraça alheia. Ele é muito orgulhoso e se sente superior e extraordinário como Napoleão.
(…) esse crime ínfimo não seria atenuado por milhares de boas ações? Por uma vida – milhares de vidas salvas do apodrecimento e da desagregação. Uma morte e cem vidas em troca – ora, isso é uma questão de aritmética.
Raskólnikov não mata a idosa pelo dinheiro, mal sabe a quantia que roubou, ele enterra as joias e o dinheiro, retorna ao seu claustrofóbico quarto e fica somente rodando em ciclos pensando em suas teorias, delirando como se tivesse procurando seu castigo logo após o crime.
O estudante Rodion Ramánovich é um anti-herói, amado por poucas pessoas. Todas suas atitudes são despertadas por razões complexas, diálogos internos e pulsões inconscientes que estão combinadas aos princípios sociais, individuais, filosóficos e religiosos. Se você gosta desse grande clássico de Dostoiévski e gostaria de entender melhor a mente e o comportamento de Raskólnikov. Fique atento, pois farei outro post com uma análise psicológica e filosófica de Crime e Castigo *•*
Todas ilustrações são do artista Mihail Chemiakin.
Já li o livro, mas estava esquecida de muitos detalhes.
Aguardo.
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Esse livro é muito bom, rendeu até outro post ;)
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