Filme: Novitiate / Noviciado

Almejando uma família, ela se sentia deslocada em seu ambiente familiar. Fruto de um casamento que não teve um final feliz, sua realidade também não era satisfatória. Longe das brigas, mágoas, dos namorados de sua mãe e mais longe ainda da ausência que seu pai lhe deixava, Cathleen (Margaret Qualley) encontrou na Igreja, um refúgio. A figura de um homem não despertava nenhuma atração, ao contrário, repulsa. A única imagem que se aproximava cada vez mais, era a de Jesus Cristo como o seu salvador.

Acolhida por freiras, a jornada da jovem de 17 anos se inicia. Colégio de freiras, missas e o noviciado. Decidida em se tornar parte delas (freiras) e de sua nova educação, Cathleen foi em busca de uma identidade que se afastasse da mãe Nora Harris (Julianne Nicholson), uma mulher desinibida e recém-separada, o que para época (década de 60) não despertava bons olhares. A atitute da filha não agradou e nem era esperada por uma mãe agnóstica.

Disciplina e obediência estavam a todo instante presentes, bem internalizadas em Cathleen, tendo poucos momentos para se auto-questionar sobre sua vida e seu futuro. Tanto a imagem de Jesus como a da Madre Superiora (Melissa Leo), eram representantes de um enorme respeito, repressão, verdade absoluta e poder de orientação. Sua vida estava nessas mãos, a qual sempre recorria e ao mesmo tempo temia.

A religião foi criada pelos homens, e a Igreja sendo uma instituição, possui regras e hierarquia que devem ser respeitadas, seguidas, de preferência sem serem questionadas. Durante o filme, percebemos bem essa dinâmica do poder da religião, especificamente, a católica. Por trás de grades, janelas e muros, Cathleen pensava no mundo, que nada mais era do que o espaço inóspito em que habitava.

Ela procurava não pensar no passado e não sabia se estava seguindo o caminho certo, sabia somente que devia seguir. Só havia deveres, os saberes ficavam por conta dos homens, as mulheres não deveriam pensar, vistas como incapacitadas por eles. Os padres, detentores de autonomia e poder como superiores as freiras, eles que ditavam as regras encaminhas pelo Vaticano.

O convento seria uma instituição total segundo o filósofo Foucault, esse tipo de instituição serviria para aqueles que não sabiam se socializar e deviria servir de disciplina. O início do filme Novitiate / Noviciado transmite a ideia de que as freiras não deram certo na vida e se decepcionaram muito em sua vida amorosa, o que não deixa de ser verdade, muitas mulheres encontram na Igreja, no convento, sua última chance.

Um simples tocar de mão se torna um pecado. Uma mãe que permite que sua filha se torne uma freira, deixa de ser mãe, pois agora sua filha é esposa de Deus e posse da Igreja Católica. O amor que tanto referiam não seria bem o amor, era algo que afastava sua própria liberdade e as pessoas a quem amava, era na verdade o sacrifício. Ame apenas a Deus e faça tudo que for preciso para se conectar com ele, se distancie de tudo e de todos, não se distraia.

Nós nos tornamos, o que amamos e quem amamos molda o que tornamos.

Sentindo-se como pecadora, Cathleen irá fazer jejum extremo, esse ato de penitência seria maior que o instrumento dado pela Madre Superiora para a autoflagelação e purificação da alma. Destacando como o castigo é introjetado pela disciplina e quem fere é ao mesmo tempo o ferido.

Más notícias chegam para a Madre Superiora, agora o Vaticano II havia criado regras mais brandas e maior liberdade dentro da Igreja para aproximar os fiéis. Detentora de maior poder na clausura, ela abusava da submissão das freiras e se viu ameaçada, a lei do silêncio que reinava em seu espaço estava com os dias contados.

Incluindo a retirada de castigos físicos como forma de penitência. Essa reforma do Vaticano serviria para mostrar que os hábitos praticados até então, não significaria uma união maior com Deus. Após isso, a maioria das freiras do convento ficaram perplexas e não receberam a notícia de forma esperada, já que algumas delas queriam se auto-punir e necessitavam da rigidez para se sentirem mais devotas a Deus. Também existiam aquelas que abandonavam o convento para se livrar do sacrifício e da convivência com o declínio físico e psicológico, que evoluíam a um estado de demência mental.

Perdidas, desamparadas, agora a escolha de todas não dependeria mais do temor, da obediência, disciplina e sacrifício, mas realmente, do amor a Deus. A falta de alguém para dar as ordens no novo convento despertava a falta de direção, denunciando o quanto o sistema transforma a mente das pessoas que frequentam e assumem determinados pensamentos e atitudes exigidos em uma instituição total, a fé delas estava cega.

A reforma do Vaticano expôs que ninguém é mais especial e amado por Deus, por causa de status. Sendo assim, as freiras não seriam especiais aos olhos de Deus e acabariam ali o abuso de poder devido às hierarquias dentro do convento.

A imagem de Cathleen representa a sexualidade reprimida. Uma jovem que entra num convento em pleno surgimento de uma explosão de hormônios. Reclusa, ela busca constantemente ouvir Deus e conseguir uma resposta, um sinal de que está no caminho correto. Isso era apenas uma tentativa de ouvir sua própria voz que estava perdida em meio à tantas contraditórias, do mundo religioso e da realidade. Naquele lugar em que falavam tanto em amor por sacrifício como um diferencial do catolicismo, necessitava mais que tudo de consolo, por essa falta que Cathleen estava morrendo aos poucos. 

Dirigido por Margaret Betts, Novitiate / Noviciado é um ótimo filme para refletir. Com uma bela fotografia, iluminação opressora assim como o ambiente do convento, apenas os rostos das freiras permanecem iluminados, tendo maior contraste e expressão, além de atuações que não deixam nada a desejar. Se você já assistiu e ficou curioso(a), comente comigo e curta o conteúdo para apoiar o meu trabalho :)

Novitiate / Noviciado está sendo exibido na tv pelo canal HBO, para conferir os horários do filme, CLIQUE AQUI!

Trailer do filme Novitiate / Noviciado