A melancolia foi considerada uma patologia predominante durante o século XIX, e a depressão tornou-se a patologia mais debilitante e também a expressão do mal-estar nos tempos atuais. O sofrimento psíquico de ambas funcionam como uma manifestação desse mal-estar sob forma de sintomas.
Qualquer transformação social, econômica e cultural pode modificar nossa subjetividade, nossa estrutura de sentimentos, deixando o indivíduo frágil e vulnerável, implicando novas interpretações. Daí a importância da psicanálise, pois ela considera essas transformação e o contexto em que estamos inseridos na formação do sintoma.
Da mesma forma que a melancolia, a depressão também é um estado interno em que o indivíduo está focado em si mesmo, evolvido por questões existenciais e profundas que trazem junto o sofrimento, e para isso acontecer não é obrigatório existir uma causa externa atribuída a esse sofrimento, como acontece na tristeza.
Quando existe uma causa determinante, o desinteresse pelo mundo externo não é de todo ruim, porque é necessário para a elaboração de qualquer acontecimento significativo. Essa postura de se introverter, representa um investimento de energia na tentativa de solucionar uma situação traumática, difícil.

Para a psicanálise, tanto a melancolia quanto a depressão estão relacionadas pelo sentimento de perda. Segundo Freud, a depressão é um sintoma que pode estar presente na estrutura psíquica de qualquer sujeito, vinculada a um afeto ou estado que envolve tristeza, desgosto, inibição e angústia. Já a melancolia está associada a um estado inconsciente de impossibilidade de elaboração do luto, uma neurose narcísica.
A melancolia é resultado da neurose narcísica, isto é, a pessoa canaliza sua energia psíquica tão para si mesma, que ela não age. Para Freud, dificilmente você verá um melancólico incomodado com questões externas, como seu corpo, por exemplo. O incômodo do melancólico é de ordem moral.
O vazio que os deprimidos se referem, parece ser o vazio de não realizarem os ideais inerentes à cultura do narcisismo, da sociedade do espetáculo, em que determina um superinvestimento no eu, no consumo e na aparência, consequentemente levando à incapacidade de lidar com as frustrações e fracassos que não são permitidos nesse tipo de cultura e sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além do contexto histórico, a cultura é um fator determinante também para definição de patologia, o que pode ser considerado loucura para os franceses, pode ser sanidade para os indianos e budistas. Por exemplo, para alguns o motivo do sofrimento seria a busca do prazer pelas coisas externas, o que é facilmente visto na sociedade do consumo. Aquela postura de se retrair, introverte-se que disse anteriormente, para outros pode não ser uma atitude melancólica, e sim sábia, que a maioria deixa de praticar na sociedade do espetáculo, onde tudo deve ser compartilhado.
A sociedade atual não permite mais as singularidades, como se todos nós fôssemos iguais e apenas os discursos de sucesso são valorizados. Por isso, a melancolia em muitos casos é tratada como doença, por não haver mais a permissão que indivíduos se sintam tristes quando buscam por si mesmos e isso acaba sendo substituído pela medicação prescrita, sem haver necessidade.
Portanto, eu considero que a melancolia e depressão dentro desse contexto social, não precisam ser necessariamente em todos os casos patologias, mas, sim, uma posição do sujeito de resistência frente às exigências da cultura do narcisismo e da sociedade do espetáculo, porém como os afetados (melancólicos e deprimidos) se veem impossibilitados de atender às exigências sociais, experimentam então, a inevitável sensação de vazio crônico, angustiante.

Na nossa sociedade atual, nos deparamos com uma cultura que supervaloriza o individualismo, o consumo, o culto ao corpo e o mundo das imagens, o que propicia o surgimento das patologias narcísicas. Assim como a melancolia foi uma forma de expressão do mal-estar no século XIX, a depressão tem sido considerada o mal-estar do século XXI.
Só fazendo um adendo, é claro que se você se sente mal e seu estado psicológico vem te impedindo de realizar coisas novas ou mesmo de continuar suas tarefas rotineiras, a procura por uma orientação de um especialista na área de saúde, se torna indispensável, certo?
O objetivo do post foi dar uma visão psicanalítica dos sintomas da melancolia e depressão, relacionando brevemente à obra O mal-estar na civilização de Sigmund Freud. Se você apoia meu trabalho e gosta também de psicanálise, não esquece de curtir o conteúdo ou fazer um comentário para mim *•*
Imagem Destacada – A Primavera de Botticelli (1482) é uma pintura talismã, encomendada para equilibrar os quatro humores, principalmente, a melancolia, pois acreditavam que o humor melancólico poderia levar o homem à loucura.
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Esse artigo foi escrito de uma forma espetacular, tudo o que foi dito se encaixa perfeitamente no que acontece em nossa atual realidade. Nós nos requisitamos demais para agradar mundo a fora, ou melhor, nos destruímos demais. O mundo cinza começa a surgir quando o mundo azul não te aceita.
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Obrigada pelo reconhecimento do meu trabalho e por compartilhar o seu pensamento.
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