Nunca a tirania das imagens e a submissão alienante ao império da mídia foram tão fortes como agora. Nunca os profissionais do espetáculo tiveram tanto poder: invadiram todas as fronteiras e conquistaram todos os domínios – da arte à economia, da vida cotidiana à política -, passando a organizar de forma consciente e sistemática o império da passividade moderna.
Guy Debord
Sem ter noção alguma de que hoje a vida das pessoas seria tomada pelas redes sociais, Guy Debord já havia previsto “A Sociedade do Espetáculo”, que nada mais é do que o espetáculo que assistimos todos os dias nas mídias sociais, publicitárias e televisivas, todos em busca da fama e os limites para isso não existem, reduzindo-se à uma coisificação patética que respira e exala a vaidade e o consumo de forma desenfreada.
No ano de 1968, Guy Debord era um filósofo, crítico cultural e cineasta que liderava um grupo de intelectuais da sociedade francesa e tinha como maior base teórica a sua obra “A Sociedade do Espetáculo”, a qual criticava uma sociedade mediada por imagens e consumo. Imagens estas, que tornariam as pessoas em meros espectadores contemplativos.
O que queremos, de fato, é que as ideias voltem a ser perigosas.
Declarou Guy Debord durante um protesto.
A partir dos anos 90, a Sociedade do Espetáculo foi dando forma e se tornando visível a todos, sua ideologia ainda perpetua, ganhando cada vez mais força, através do culto ao corpo perfeito, a necessidade da fama, de ser olhado e invejado pelos os outros, nos comportamentos mais chamativos e modificações corporais, como se todos quisessem causar, sabe?
MENTE
Na Sociedade do Espetáculo, você só existe se você é olhado e contemplado. A partir disso, antigas patologias estão se tornando mais recorrentes nos consultórios, marcadas pela cultura do narcisismo que engloba todas as práticas desse tipo de sociedade. Entre as patologias advindas da cultura do narcisismo, podemos citar:
PERSONALIDADE HISTRIÔNICA padrão de emocionalidade excessiva e necessidade de chamar atenção para si mesmo, incluindo a procura de aprovação e comportamento inapropriadamente sedutor.
MELANCOLIA temperamento quando predominante é caracterizado pela tristeza vaga, permanente e profunda, sem haver necessariamente uma causa, semelhante ao luto e a depressão, além da sensação de inutilidade e falta de prazer.
DEPRESSÃO transtorno do humor, caracterizado pela tristeza profunda, sensação de perda e infelicidade crônica, podendo levar ao suicídio e incapacidade de realizar tarefas cotidianas.
PERSONALIDADE BORDERLINE OU LIMÍTROFE transtorno de personalidade caracterizado pelo padrão de comportamento impulsivo e grande instabilidade emocional, afetiva e da autoimagem.
Estamos ficando carentes de foco e atenção, para nos mantermos vidrados e sentirmos prazer e curiosidade, necessitamos de perfeição, do espetáculo e assim, métodos são utilizados, como as imagens em terceira dimensão (3D), Photoshop e até mesmo novas práticas como o sexo virtual.
A verdade não importa, o que tem valor e nos atrai são as imagens belas e impactantes, todos falam que são o que queriam ser e dizem ao outro o que ele gostaria de ouvir, nada é real, apenas um suplicando ao outro mais mentiras. Um discurso sedutor e enganador feito para alienar as pessoas. Como um monólogo, essa sociedade não aceita respostas contrárias e muito menos críticas, quem se opõe ao modelo é massacrado e rejeitado, não se torna nem considerável, ou você segue o espetáculo ou tá fora.
O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens.
Guy Debord
REDES SOCIAIS
A relação entre as pessoas não é mais autêntica, e sim de aparência. Nas redes sociais esse comportamento teatral que gera o espetáculo é o mais gritante, pessoas comuns não aceitam a falta de emoção que o cotidiano carrega, precisam de atrativos, de show. Formadas basicamente por exibição constante, cenas e expressões dramáticas, discurso superficial e muito suspense para prender e hipnotizar seus espectadores, as redes sociais estão aí para quem quiser apreciar esse comportamento teatral.Stories (pequenas histórias em tempo real ao longo do dia no Instagram) em demasia, literalmente a cada segundo, não é instragrammers?
A vida real do “fulano” não tem graça, se ele não faz grandes viagens, se ele não tem uma beleza estonteante e não postar muito para entreter seus seguidores, uma postura como esta é inadmissível nas redes sociais, ninguém quer seguir alguém que não se encaixa nas exigências dessa sociedade. Cadê o espetáculo? Precisamos dele!
“Cabeças vão rolar“, se todo esse espetáculo não der uma freada, as patologias da mente e alma, serão mais crescentes e estão por aí para quem estiver disposto a olhar o mundo real, aquele que está infundido ao virtual. Esquecemos de ser gente como a gente. Pessoas de diferentes classes e culturas, dizem estar sofrendo do mesmo mal, o mal estar da civilização. O preço que o espetáculo cobra depois de tantas cenas e gravações espetaculares pode sair caro no mínimo na conta bancária para investir em saúde mental, porque a mente humana já está sendo cobrada.


A rainha da França, Maria Antonieta talvez se adequasse bastante à era da Sociedade do Espetáculo, muito extravagante, ela é até hoje inspiração para o mercado fashion e para o cinema, tornando-se parte da cultura popular, ela adorava se encher de roupas, acessórios luxuosos, frequentar bailes e gerar altos gastos à corte, seu espetáculo acabou numa guilhotina tendo sua cabeça decapitada na Place Louis XV.

Por obséquio, pessoas que se identificam com essa ideologia, não somos mais crianças, já passamos da fase que tudo precisava de cores vibrantes para chamar nossa atenção e que grandes textos não podem ser apreciados, pois demoram demais e são inferiores aos vídeos bem resumidos com entretenimento e frases contagiantes dos youtubers. A indústria do entretenimento vem lucrando muito com essa alienação, por trás dessa ideologia há toda uma estrutura publicitária, de marketing e comércio.
Não serei hipócrita, eu também estou nas redes sociais, porém não faço desse espaço o meu dia, o meu viver. Somos produtos de nossa sociedade, e acompanhamos ela mesmo. O intuito aqui não é criticar, mas fazer pensar. Convenhamos, se você não precisa disso para ganhar a vida, não entre nesse jogo não, abra sua mente e pense em sua existência, qual o valor que você está atribuindo a todo esse espetáculo? Não deixe isso extrapolar e consumir sua mente, use as redes sociais com cautela, primeiro a sua vida e depois elas.
Talvez estejam bagunçando a sua cabeça, não acha? Será que o objetivo é fazer você achar a sua vida sem graça e seguir as alheias e patrocinadas? Quantas vezes você se sentiu inferior a alguém desconhecido? Deprimido por comparar a sua vida à outra que nem sabe da sua existência. Você reconhece no fundo que tudo é uma mentira e mesmo assim acompanha, por que faz isso? São essas questões que você tem que pensar e conversar consigo mesmo e caso esteja em sofrimento, pois todos nos tornamos vítima desse espetáculo, considere fazer uma análise de si mesmo ou uma terapia com um profissional.
O espetáculo consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos de consumo, de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum: celebridades, atores, políticos, personalidades, gurus, mensagens publicitárias – tudo transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. O espetáculo é a aparência que confere integridade e sentido a uma sociedade esfacelada e dividida. É a forma mais elaborada de uma sociedade que desenvolveu ao extremo o ‘fetichismo da mercadoria’ (felicidade identifica-se a consumo). Os meios de comunicação de massasão apenas ‘a manifestação superficial mais esmagadora da sociedade do espetáculo, que faz do indivíduo um ser infeliz, anônimo e solitário em meio à massa de consumidores’’.
Guy Debord
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Oi Cintia, tudo bem?
Adorei o post, super explicativo e informativo.
O Instagram eu acho um belo exemplo de rede social que acaba provocando muito mal estar a diversas pessoas, porque rola a comparação e uma vitrine só com coisas boas.
Beijos,
Priih
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Oi, Priih! Tudo bem 😊
Muito Obrigada! ✨ O Instagram vem se configurando cada vez mais como a rede social mais agressiva pro psicológico das pessoas, pois como você disse só mostra coisas boas e a comparação se torna inevitável, levando ao quadro de depressão e baixa autoestima.
Adorei seu comentário! Bjs 😘
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Tudo neste post é muito certo. As pessoas são mais superficiais na vida virtual e na vida real é bem diferente. Eu decidi também me distanciar um pouco das redes sociais e eu tem ficado mais tranquilo depois de usar menos as apps das redes sociais. Eu curto mais os momentos reais!
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As pessoas estão construindo uma imagem conforme os perfis famosos para serem mais visualizadas, porque na sociedade do espetáculo, você só existe, se for visto por todos. Faz bem, os casos de depressão e ansiedade só estão aumentando com a frequência do uso desse tipo de mídia.
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