Do rubor ao embaraço, do constrangimento da timidez até o sentimento de humilhação; quem nunca foi afetado pelo sentimento de vergonha?
De modo claro e preciso, a autora nos convida a acompanhá-la num percurso que elucida as raízes e origens mais remotas desse sentimento universal.
O leitor tem a experiência de se reconhecer em um texto fluente e ilustrado por situações do cotidiano e da sua clínica, que ganham novos sentidos quando vinculadas ao nascimento do eu, à imagem de si e à busca do reconhecimento pelo outro. É nessa trama que a vergonha nasce e se adensa, mas será também nela que poderá ser compreendida.
Nas palavras da autora: prestar atenção aos sinais e não se render a eles nem tentar escondê-los pode ser um caminho para entrar em contato consigo mesmo. Bilenky nos proporciona uma leitura instigante e transformadora.
Todo mundo já sentiu vergonha nessa vida, o grau varia de indivíduo a indivíduo, porém a descrição é a mesma, de um leve rubor a um forte sentimento de vexame, a experiência é universal e dolorosa, dificultando mesmo as tarefas normais do dia a dia. A vergonha pode ser denunciada pela expressão fria e dura, na arrogância, nas tentativas desesperadas de agradar ou na tentativa de passar despercebido em qualquer situação.
Vivemos numa era digital em que alguém só existe quando é visualizado, aquele que não tem medo de se expor e não se importa mais com a privacidade. Excluídos acabam ficando os envergonhados, porém ninguém está isento de sentir vergonha até mesmo os desenvergonhados, quando não pensam nas consequências de suas postagens. A vergonha talvez seja a nossa marca mais humana e um dos sentimentos mais difíceis de definir, vivida desde um pequeno incômodo físico, como um defeito até algo mais complexo e devastador capaz de levar ao suicídio.
No momento que temos a percepção que somos vistos pelo outro, estamos vulneráveis e expostos à sua avaliação crítica, esse olhar é como se pudesse nos enxergar por dentro, então a vergonha serve como uma barreira, uma proteção. Algumas pessoas aprendem a lidar com desenvoltura e riem da própria vergonha, outros buscam o isolamento, vivendo uma vida limitada, o que prejudica suas relações sociais.
Nossa sociedade narcísica é regida pelo valor da imagem pessoal, logo a relação com o ideal tão desejado tem o potencial de destruição ao sujeito submetido, ele se julga fracassado quando não atingi o que imagina que esperam dele e quando não se ajusta ao ideal que carrega dentro de si. O sujeito atual se sente impotente e tem pavor de se sentir rebaixado, por isso faz cara de paisagem mesmo com tamanha violência dentro de si e com todos os seus problemas.
Marina Kon Bilenky discuti a vergonha através da psicanálise, antropologia, literatura, filosofia, mitologia, sociologia, cinema, música e política. A psicanalista e autora do livro relata a vergonha pelas situações cotidianas e casos clínicos, por isso a identificação com os envergonhados será inevitável em algum momento, envolvendo o leitor no tema central. Não só a vergonha é abordada como a falta dela também, ampliando o conhecimento. Ao final da leitura, a autora recomenda filmes e livros sobre o tema, o que me agradou bastante.
Este não é um manual para você deixar de ser tímido, não é um livro de auto ajuda, a proposta aqui é trazer várias informações sobre a vergonha por diferentes perspectivas, a fim de favorecer o autoconhecimento, algo cada vez mais valorizado, pois é a primeira etapa para a mudança, para isso o mais adequado é solicitar a ajuda de um psicólogo e caso não faça análise/psicoterapia, leia materiais como esse, feitos por profissionais da área de psicologia que te auxiliarão nesse caminho que possibilita a mudança desejada.
O caminho para vencer a vergonha não é fácil, você necessita se auto-conhecer para descobrir todos gatilhos que provocam a sua vergonha e a razão para despertar tal sentimento tão desconcertante.
A autora faz considerações sobre a vergonha muito esclarecedoras, didáticas, sem deixar a profundidade da psicanálise de lado, marquei muitos trechos do livro. Aconselho essa leitura a todos que gostariam de desafiar a vergonha, se exporem mais e fazerem tudo o que não tinham coragem por medo de julgamento e pelo olhar do outro.
A vergonha tem muito a nos ensinar sobre nós e nosso mundo, ela molda o comportamento humano, refletir nisso é repensar nossos valores. Ao conhecer as forças que nos dominam, podemos modificar a condição em que vivemos.
Ficou com vontade de ler?
Encontre aqui Vergonha, de Marina Kon Bilenky. Para saber mais detalhes, clique no link abaixo.