Na época de Freud, não se falava em depressão, e sim melancolia. Com a psiquiatria, a melancolia cedeu lugar à depressão, se configurando como doença grave e debilitante, exigindo tratamento medicamentoso e se distanciando da antiga ideia romântica sobre a melancolia. Os dois conceitos são usados de modo corriqueiro como sinônimos, sem uma preocupação com o diagnóstico diferencial, porque ambos estão ligados pela mesma noção de tristeza profunda, gerando uma tremenda confusão e cadeia de erros.
Antigamente as pessoas eram diagnosticadas como melancólicas e hoje esse conceito quase não é referido, agora são portadoras de depressão. Utilizando breves contextos históricos, pretendo facilitar a compreensão e atenuar essa confusão.
MELANCOLIA
Vamos começar na Antiguidade, quando a melancolia era considerada uma dádiva que somente gênios possuíam, se destacando em várias áreas do conhecimento como artes, educação e política. O conceito de melancolia surgiu na Grécia, a partir da Teoria dos Humores (temperamentos) de Hipócrates, ele associava distúrbios mentais ao desequilíbrio em um dos quatro humores que todos nós carregamos, são eles: o sangue (sanguíneo), a fleuma (fleumático), a bile amarela (colérico) e a bile negra (melancólico). Desse modo, a melancolia é um tipo de temperamento e uma doença quando há o aumento da concentração de bile negra, seus sintomas incluem: tristeza, ansiedade, medo, desânimo e tendência ao suicídio.
A melancolia ainda é considerada por alguns como atributo à atividade intelectual. Durante o movimento do Romantismo (fim do século 18 ao século 19) esse temperamento caracterizado pela tristeza profunda, foi muito valorizado devido ao sentimentalismo e subjetividade exacerbados. Na época dos existencialistas (século 19 e 20), a literatura se alimentou da melancolia e deu forma a várias obras magníficas, usando-a como uma fonte inesgotável que os poetas e artistas tinham acesso, dando então mais um significado positivo para o conceito.
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O início do século XIX foi marcante para o conceito de melancolia, os significados positivos desse temperamento começavam a entrar em declínio, atrelando à uma patologia inquietante, ligada à imaginação e dor existencial, caracterizada pelo delírio parcial com tendência triste ou opressiva.
Depois com os avanços na psiquiatria, após a descoberta dos antidepressivos, o conceito de melancolia desapareceu dos manuais e classificações de transtornos mentais, dando lugar à depressão, como se os dois conceitos tivessem sido misturados, causando dificuldade para direcionar um tratamento de efetivo.
DEPRESSÃO
A depressão, o “mal do século” é um transtorno de humor caracterizado pela tristeza profunda e permanente, devido ao surgimento de dificuldades na vida do sujeito que o impossibilitam de resolver, como problemas na área profissional, pessoal, saúde, etc. Sendo assim, não precisa haver necessariamente uma perda para surgir a depressão e caso tenha havido a perda, a depressão persiste mesmo depois do evento ruim. Esse tipo de transtorno de humor, envolve aspectos físicos e mentais, trazendo grande prejuízo na vida do indivíduo e podendo levar ao suicídio, por isso que é configurada como uma patologia.
É comum a pessoa deprimida conter em sua carga genética uma pré-disposição para a doença, ou também pode haver um traço de personalidade deprimida, o que favorece o surgimento da doença. Além disso, o ambiente físico, onde se dão nossas relações e convívios com outras pessoas, pode ser mais um fator importante quando pensamos na depressão.
A melancolia e a depressão estão ligadas pelo estado de tristeza profunda, sensação de impotência, inutilidade, sentimento de culpa excessivo e inadequado, falta de vontade de fazer as coisas, redução da sensação de prazer (anedonia) e desinteresse pelo mundo exterior. Tanto a depressão como a melancolia são semelhantes em seus sintomas, porém o quadro de depressão pode incluir irritabilidade e ansiedade (o que não é predominante na melancolia).
Durante as décadas de 80/90 com a descoberta de novos medicamentos antidepressivos como o Prozac, a depressão foi disparada nos diagnósticos, que coincidência, não? (risos). Não estou dizendo que a indústria farmacêutica que causa a depressão, porém devemos estar mais atentos a esse mercado, aos interesses da parte comercial (quem fatura com isso) e suas novidades. É claro que a sociedade tem sua parcela de responsabilidade no aumento crescente de casos de depressão à cada década, muitas questões estão envolvidas quando falamos em saúde mental. Sabemos hoje, que qualquer pessoa, mesmo aquelas mais felizes, vão sofrer de depressão em algum momento da vida. Você não acha isso alarmante?
Depois dessas considerações, acredito eu, que a confusão se dá mais pela terminologia e devido à mudança do contexto histórico e avanço da ciência, porém a psicanálise tem suas considerações também e são muito importantes, por isso vai render outro post, fiquem ligados *•*
Se você gostou de admirar as artes de Vicent van Gogh e quer saber mais sobre ele, aquele que produziu as mais belas pinturas, atormentado pelos episódios de depressão profunda em que sofria, leia este post Por trás dos Girassóis de Van Gogh
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