Sob a perspetiva de mulheres com câncer, o documentário Segunda-feira no Racine conta através da fala delas, como está sendo fazer o tratamento quimioterápico, como elas pensam sobre a doença, a vida e a morte.
Todas as histórias se passam dentro do Racine, um salão de beleza, onde as donas e irmãs, Cynthia e Rachel, reservam gratuitamente uma segunda-feira a cada mês para atender, ouvir e acolher todas mulheres que estão enfrentando um dos efeitos mais impactantes visualmente da quimioterapia, que é a alopecia (queda de cabelo).
Pesquisas neurobiológicas já comprovaram que toda imagem cria um impacto emocional antes que seu significado seja compreendido racionalmente. A imagem tem o potencial de afetar emocionalmente os indivíduos, criando sensações positivas ou negativas, e até mesmo interferindo no comportamento e autoestima.
A representação do cabelo é acompanhada historicamente como um símbolo de sedução e força. Embora o cabelo, não possua nenhuma função vital, as pessoas sempre o consideraram como importante para a autoestima.
Quando o diagnóstico é confirmado, as preocupações surgem imediatamente em relação a expectativa e incerteza de cura e aos efeitos colaterais do tratamento. A partir daí, começa a ocorrer um processo de perda pela modificação da imagem corporal (alopecia, olheiras e perda de peso corporal), alteração no funcionamento do organismo (náuseas, fadiga e vômitos) e interrupção da rotina que o paciente tinha anteriormente ao diagnóstico (pausa das atividades laborais e eventos sociais).
O repouso físico deve ser realizado, mas a mente não para e as mudanças também não. O psicológico do paciente fica abalado por uma tristeza profunda, choro e medo; o processo de perda é inevitável pelas mudanças e pode atingir a autoestima de qualquer pessoa até os mais positivos; os prazeres se tornam mais distantes e a lembrança de pequenas coisas que antes eram gostosas, fazem muita falta, como uma comida caseira e os almoços de domingo em família.
Segunda-feira no Racine tem o intuito de expor a vivência e o pensamento dessas mulheres e aproximar a realidade delas para o mundo. Acredito que o documentário possa trazer uma reflexão enriquecedora sobre o assunto e a vida para qualquer pessoa, por isso vou compartilhar alguns pontos de vista dessas histórias:
Deixas nas mãos de Deus pode ser a atitude mais corajosa no momento que você toma a decisão de interromper a quimioterapia, pois você sente que não tem mais nada, tudo se foi e agora você prefere deixar que Deus escolha a sua hora de partir, ao invés de deixar nas mãos da medicina.
Outras pessoas podem se desprender de Deus, pois perderam sua fé, mediante ao desgaste físico e emocional. É um processo longo de perda que inclui cabelo, cílios, sobrancelhas, seios mutilados, a certeza de que a morte vai chegar e pode ser rápido ou não.
Umas se sentem como cobaias e alienígenas sendo manuseadas pelos médicos, elas se lembram do passado, da sua antiga imagem interna (modo de ser e pensar) e externa (imagem corporal) e percebem como violenta pode ser a percepção de uma pessoa com câncer e de quem está ao seu redor. A família, como fica? Como é saber que seus filhos poderão ter que viver sem a sua presença mais?
À espera do milagre, à espera da morte, dia após dia, tudo muda. Não só a vaidade está em questão nos diálogos que ocorrem no Racine, mas também muitas indagações profundas e existenciais são colocadas em prova.
Respeitar a dor do outro e acolher sua decisão, pode ser menos traumatizante no momento de uma doença, principalmente se ela for terminal. É o corpo dela, é a sua vida.
Segunda-feira no Racine está sendo transmitido pelo canal HBO.
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