Como prometido, estou fazendo uma continuação do post Transtorno Mental Na Família . Vimos anteriormente que, após o movimento da luta antimanicomial, o paciente psiquiátrico passou a ser considerado integralmente, ou seja, a doença em si continuava sendo o foco da atenção, mas também, os outros aspectos da vida do paciente que contribuíam para o aparecimento ou piora do quadro do transtorno mental, como: a perda do emprego, carência afetiva, divórcio, isolamento social, consumo de drogas, etc.
Pensamento nisso, a família não estava fora da atenção e ficou ainda mais centrada, depois das teorias postuladas por Freud, em que mostravam como as relações familiares exerciam influência sobre a mente dos sujeitos, em seus sintomas somáticos e patológicos. Freud percebeu através da prática clínica que muitas vezes, a neurose de um paciente tinha relação com os conflitos entre os membros de uma família.
Obs. neurose pode ser definida como a dificuldade de adaptação do indivíduo, causada por conflitos psíquicos que o impedem de viver prazerosamente sua existência. O neurótico tem plena consciência de sua limitação e sofre por ter uma reação mais intensa do que a natural em relação a uma situação ou objeto específico. Normalmente a neurose se manifesta após um forte evento emocional, ou apenas devido ao traço de personalidade ou genética. Exemplos de neurose: fobia, compulsões, ansiedade, obsessões, histeria, depressão, angústia, etc.
As resistências internas são inevitáveis durante o processo terapêutico, elas se apresentam quando o paciente revela uma atitude de oposição às descobertas do analista sobre os seus desejos inconscientes, isso é normal na neurose. Porém, existem também as resistências externas que no caso seria a família, sendo um obstáculo a mais para esclarecer os sintomas do paciente.
Segundo Freud, a família teria então, o potencial de prejudicar o tratamento ao se intrometer. Um familiar saudável psicologicamente não precisa pensar muito para decidir entre seu próprio interesse e a recuperação do paciente, mas familiares que não se encontram tão bem em sua psique(mente) podem não se interessar na cura e no estado atual do paciente, atrapalhando-o. Essa triste observação não é surpreendente para o analista.
A Terapia de Família sofreu muitas influências não só da psicanálise. Depois de algumas descobertas, a família, que até então não era nem considerada, passou a ser objeto de estudo, estratégia de intervenção, cuidadora do portador de transtorno mental, mas junto a isso, ela passou a ser sofredora necessitando também de suporte e assistência da saúde. Agora, o paciente e família são reconhecidos como personagens centrais do transtorno mental.
É comum a vida do cuidador ficar paralisada no momento que surgiu a doença do familiar, é como se o transtorno mental fosse uma prisão para ambos os lados. Além das mudanças na rotina, acontece o abandono do trabalho para se dedicar integralmente ao familiar.
Quem costuma ser o cuidador é a mulher/mãe. Infelizmente isso ainda está marcado na sociedade e foi construído historicamente como uma questão de gênero. O portador de transtorno mental, muitas vezes é o filho. Se os pais ainda forem casados, a relação pode ser afetada de uma forma positiva quando os dois se unem pelo apoio, ou pode afastá-los ao virar um jogo de culpa e gerar um estado de tensão entre o casal. Mesmo assim, quando a doença atingi o filho, o impacto da mudança é menor do que o pai ou mãe doente e o filho cuidador.
As mudanças ocorrem em vários níveis desde o psicológico até o orçamento familiar, por exemplo, a questão de faixa etária pode interferir no sustento da família, quando um adulto adoece, possivelmente, ele possuía um trabalho e era produtivo, porém é obrigado a se ausentar, acarretando dificuldades na despesa da casa, fora os custos com a doença.
O sofrimento psíquico pode ser agravado, quando a família infantiliza ou transmite a ideia errônea de inutilidade ou incapacidade ao portador de transtorno mental, por ele precisar de cuidados e atenção. Isso é muito doloroso, pois retira não só qualquer possibilidade de autonomia, como a história dele e o seu papel dentro da família, apagando tudo o que ele construiu.
Tensão e desgaste, o constante olhar vigilante pelo medo de ser agredido. Isso mesmo, algumas doenças psiquiátricas podem aumentar o nível de agressividade e desordem no portador e/ou ele pode ter um comportamento esquivo e não aceitar que precisa de cuidados, reagindo de forma agressiva, usando a violência psicológica ou até física para atingir o familiar cuidador, que apenas quer ajudar, trazendo mais dificuldades e sofrimento na relação com a família.
A incerteza quanto ao futuro do paciente, a preocupação em não deixá-lo desamparado, a necessidade de construir amizades verdadeiras para amenizar o sofrimento e conseguir uma figura de apoio para qualquer adversidade que apareça. Sejam questões econômicas, emocionais ou físicas, todas estão envolvidas na sobrecarga familiar e são possíveis de transformar um ambiente doméstico em um espaço de sofrimento psíquico.
O passado e o presente se misturam, tudo fica mais doloroso para a psique (mente) de qualquer pessoa, o futuro passa a ser ainda mais incerto numa situação de fragilidade pelo prejuízo na saúde mental. Caso, você seja um cuidador, tente não fechar os olhos para todos os problemas, procure apoio psicológico e tente construir uma rede de pessoas para diminuir as barreiras da doença. Se você tem uma doença que afeta sua saúde mental, não ignore esse texto e se junte ao seu familiar, para que consigam juntos trazer mais leveza ao ambiente doméstico e tenham um diálogo aberto que facilite a solução de problemas ou incertezas.
Se livrem da angústia que só atrapalha e se curem pela fala 💛
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Imagem – Pinterest