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Série Freud: Pai da Psicanálise Viciado em Cocaína?

Ambientada no ano de 1873, a Série “Freud” nos revela os primeiros passos do pai da psicanálise como neurologista, trabalhando no Hospital Geral de Viena. O interesse de Freud sempre foi voltado para as doenças que a medicina não conseguia explicar, de origem psíquica, principalmente, a mais comum nesse período, a histeria. Por considerar os tratamentos inadequados, assim ele desenvolveu suas breves experiências com a hipnose. Mas tome cuidado ao assistir esta série, muitos eventos do enredo não são reais.

Histeria, mal definida e complexa como é, não é uma doença do cérebro. E, certamente, não é para chamar atenção. É uma emanação do que eu chamo de inconsciente.

Série Freud

Um dos maiores pensadores da história ocidental, Sigmund Freud ao fundar a psicanálise, alternou o entendimento sobre a alma, vinculando-a aos desejos sexuais através do inconsciente. Por esse motivo, muitos dos comportamentos disfuncionais partem de impulsos reprimidos, originados na infância. Logo, o intuito da psicanálise é trazer ao consciente os conflitos do passado.

Pensamentos proibidos, memórias que não queremos que venham à tona, estão lá, dançam ao nosso redor na escuridão, elas assombram e sussurram, nos assustam, nos deixam doentes, nos deixam histéricos.

Série Freud

Cada episódio da série tem o nome de um conceito da psicanálise, uma manifestação do inconsciente, somente isso. Distante dos acontecimentos reais, é evidente que a intenção não foi construir uma biografia. Na série Freud, o pai da psicanálise é apresentado numa versão dark, seguindo a tradicional jornada do herói com o jovem Freud inseguro e confuso descobrindo o funcionamento do inconsciente no comportamento humano.

Sou uma casa. Está escuro dentro de mim. Minha consciência é uma luz solitária. Uma vela ao vento. (…) Todo o resto fica na sombra. (…) Mas ainda está lá. Os outros quartos, nichos, corredores, escadas e portas. (…) E tudo que vive e vaga dentro de você está aqui. Vive. Dentro da casa que sou.

Série Freud

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Aqui teremos uma ficção que transita entre drama, suspense policial e terror. Afim de entreter o público, a série Freud explora: a investigação de um serial-killer, ocultismo, histeria, memórias reprimidas, desejos e vícios, traumas de guerra e política. Tudo isso, com muitas cenas banhadas à sangue ou de possessão, o que torna a atmosfera tenebrosa.

O diretor Marvin Kren coloca o papel de Freud no lugar de um Sherlock Holmes, disposto a se colocar em risco, ajudando a polícia local a desvendar os mistérios que rondam Viena no século XIX. Freud se envolve com uma família aristocrata austríaca, e conhece Fleur Salomé, sua futura paciente, uma jovem mulher possuída por um espírito e com um poder especial, ela visualiza crimes e assassinatos quando está em estado de estupor. Salomé existiu na vida real, não exatamente como é retratada na série, mas Freud disse certa vez numa carta que sua paciente era capaz de entender as pessoas melhor do que elas mesmas.

Agora se teve algo que chamou muito a atenção do público foi o uso contínuo de cocaína feito por Freud. Já nos primeiros minutos da série, podemos ver Sigmund Freud (Robert Finster) ingerindo uma solução de cocaína diluída em água, e essa cena se torna recorrente, deixando a impressão de que ele era um viciado.

As pesquisas sobre a cocaína e o vício na droga

Se tratando de uma ficção histórica, será que o pai da psicanálise realmente usou a droga? A resposta é afirmativa, inclusive, ele prescrevia aos seus pacientes.

Antigamente, a cocaína era uma substância recém-conhecida e legalizada, porém ainda não eram esclarecidos os efeitos nocivos como: insônia, convulsão, paradas respiratórias, lesões na mucosa nasais e aumento do risco de ataques cardíacos. Freud utilizou cocaína por longo tempo, em épocas de crise pessoal, entre os 28 e os 39 anos de idade.

Fabricado por grandes laboratórios como Merck e Parke-Davis, o pó da onipotência, funcionava como magia, sendo recomendado para diversos males, considerado um remédio de largo espectro era encontrado, em: pastilhas para tratar dor de dente, cigarros, bebidas como a Coca-Cola e o vinho Mariani, uma infinidade de pomadas e até produtos alimentícios como a margarina. Até o início do século XX, qualquer pessoa podia comprar cocaína.

Por conter forte teor de dopamina, propriedades psicoestimulantes e ação anestésica, o efeito viciante, forte desejo pelo uso contínuo da cocaína é desencadeado em algumas pessoas na primeira experiência. 

Freud era zeloso em ocultar o seu passado, difícil e marcado pela dor. Embora tenha sido retratado na série como um viciado, não há registros concretos sobre isso e nem que ele usava a droga em grandes quantidades, por isso não posso confirmar essa informação, logo cheguem às suas próprias conclusões após ler este artigo e as deixem nos comentários *•* 

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Antes de criar a psicanálise, no ano de 1884, o laboratório Merck atribuiu à Freud a tarefa de realizar testes com a cocaína, sendo um dos primeiros (junto com Carl Köller e Leopold Königstein) a propor o uso da substância por suas qualidades antidepressivas e anestésicas. Seus estudos foram influenciados por seu amigo e confidente, o médico Wilhelm Fliess, que já recomendava o uso da droga para tratar “neurose nasal reflexa”. Segundo Fliess, as estruturas nasais tinham ligação com a menstruação feminina na origem de neuroses, durante a cirurgia ele identificava os “pontos genitais” dentro do nariz e os cortava, inclusive, operou as pacientes de Freud. Imagina o estrago…

Freud escreveu artigos explicando o efeito analgésico do alcaloide e seus possíveis usos terapêuticos, um deles foi intitulado “Über Coca” (“Sobre Coca”), no qual discutia o potencial da cocaína para curar problemas físicos, a histeria e outras “doenças da alma”. Na argumentação, ele descreveu seus próprios sentimentos, sensações e experiências vividas com a droga.

Em minha última depressão severa, eu usei coca novamente e uma pequena dose elevou-me às alturas de uma forma maravilhosa. Agora mesmo, estou envolvido em pesquisar a literatura para uma canção de louvor a esta substância mágica.

Relato de Freud numa apresentação para a Sociedade Psiquiátrica de Viena

Apenas na década de 1960, mais de vinte anos depois da morte de Freud, os artigos foram reunidos num volume independente, “The Cocaine Papers”, com notas de sua filha Anna.

Um dos primeiros experimentos de Freud com a cocaína tinha o objetivo de tratar casos de hipocondria, neurastenia, histeria, melancolia e prostração nervosa, no entanto acabou desistindo dessa ideia de tratamento quando observou os efeitos negativos da droga e o potencial para o vício.

O maior interesse de Freud pelos estudos sobre a cocaína foi para ajudar o seu amigo Dr. Ernst von Fleischl-Marxow, que após sofrer uma amputação precisou de morfina para amenizar a dor crônica que sentia, levando ao vício da substância. Freud acreditou que poderia curá-lo substituindo uma droga por outra. Porém, os resultados foram desastrosos, Fleischl-Marxow desenvolveu uma psicose associada à dependência da droga, morrendo pouco tempo depois aos 45 anos de idade, despertando um forte sentimento de culpa em Freud.

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Até os gênios têm seus deslizes de comportamento, eles erram como qualquer mero moral. E ainda nos autocobramos, somos críticos de nós mesmos e sentimos culpa por fracassar. Por quê e pra quê?

Junto aos resultados negativos em suas pesquisas, Freud deixou de receitar a cocaína, contudo continuou fazendo o uso pessoal para aliviar sintomas de depressão, enxaqueca e sinusite. Aos 40 anos de idade, ele largou a cocaína de vez, devido ao sintoma de taquicardia e por notar que seu desempenho intelectual estava severamente prejudicado. Após essa decisão, passou a se ocupar o máximo possível, acordando cedo, mantendo uma agenda cheia de pacientes, lendo e escrevendo até a madrugada. A partir disso, Freud começa a investigar o inconsciente de cara limpa, criando a “cura pela fala”, o tradicional método da psicanálise chamado de associação livre.

Com a proibição da cocaína em 1914, Freud fez de tudo para dissociar sua imagem da droga. Todos seus materiais de estudo foram destruídos e negou que sua obra “A Interpretação dos Sonhos” tenha sido escrita sob influência e estímulos da substância. Somente uma parte dos registros volumosos de testes de cocaína realizados por Freud, poderá ser acessada após o ano de 2025. Até lá, o material segue trancado em caixas no acervo mantido pela Biblioteca Nacional do Congresso, em Washington.

Então, o que você achou após a leitura: Freud era ou não viciado em cocaína?

Se gostou de conhecer que mesmo o gênio da psicanálise teve seus erros durante sua jornada, deixe seu like, comentário ou faça sua doação ao Melkberg.

Trailer da Série: Freud

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