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Resenha: Mar Morto, de Jorge Amado

Na beira do cais de Salvador, entrelaçam-se várias histórias de pescadores, marinheiros, prostitutas e malandros. No centro desse mundo que parece parado no tempo, isolado da história, comandado pelo mito de Iemanjá, desenvolve-se a trajetória de Guma, jovem mestre de saveiro.

“Mar Morto” foi escrito em 1936 quando Jorge Amado tinha 24 anos, ele contou as histórias da beira do cais da Bahia, e sintetizou a rica mitologia que gira em torno de Iemanjá, a Rainha do Mar. Assim como os outros pescadores e marinheiros, Guma parece ser prisioneiro de um destino traçado há muitas gerações. Sem temer o mar, ele sabe que um dia irá para as profundezas das águas, para perto de Iemanjá, por isso pretende deixar antes boas memórias e ser conhecido por todos da humilde comunidade.

É doce morrer no mar.

Descrevendo a paisagem, cultura e economia do cais da Bahia, “Mar Morto” conta o cotidiano dos pescadores e é conduzido pela crença deles na figura divina de Iemanjá. Guma não se intimidava com nada, afinal, era consciente da proteção constante de sua mãe Janaína como ele chamava Iemanjá. Ao longo da narrativa, seus pensamentos e atitudes são relacionados à deusa. Devoto fiel da Rainha do Mar, o pescador corajoso dono do saveiro “Valente” deseja encontrar uma mulher que alcance os papéis de mãe e esposa. Por uma estrada longe do mar, aparecerá sua amada Lívia com quem viverá um amor proibido.

O autor deixa nas entrelinhas do romance algumas críticas sociais. Ao narrar a história de Guma e o tio Seu Francisco, Jorge Amado denuncia a luta diária dos trabalhadores pela sobrevivência, a miséria e condição que esperam as mulheres viúvas dos pescadores, além de expor a divisão social entre prostitutas, vagabundos, meninos abandonados, marinheiros, canoeiros, pescadores e burgueses proprietários urbanos e rurais. Nesse momento, destacam-se no romance o médico Rodrigo e a professora Dulce, personagens que procuram despertar a consciência das pessoas do cais contra o marasmo, a falta de educação e opressão.

Preocupada com o futuro de Guma, reaparece sua mãe que há muitos anos estava afastada, ela quer livrar o filho do mesmo destino que o pai dele como marinheiro teve. Em todas mulheres conhecidas por Guma existe a dualidade de mãe e esposa, como a personagem Rosa Palmeirão e é claro a figura mítica de Iemanjá. Guma se sente muito incomodado com a presença de sua mãe que é prostituta, ele não consegue olhar para ela com inocência, no fundo ele a enxerga somente como uma mulher para satisfazer desejos sexuais.

Guma representa Orungã, o filho de Iemanjá. Orungã era apaixonado por sua mãe, se assemelhando ao Édipo Rei da mitologia clássica. Certo dia, não suportando o próprio desejo, ele aproveitou da ausência de seu pai e tentou violentar Iemanjá. Resistindo bravamente ao filho, ela acabou caindo e falecendo, seu corpo então se inchou até dar origem a um grande manancial de águas que brotaram de seus seios. Do seu ventre saíram vários outros orixás que são colocados como seus filhos. O nome Iemanjá significa “mãe cujos filhos são como peixes”.

Ela é a mãe d’água, é a dona do mar, e por isso, todos os homens que vivem em cima das ondas a temem e a amam. Ela castiga. Ela nunca se mostra aos homens, a não ser quando eles morrem no mar. E aqueles que morrem salvando outros homens, esses vão com ela pelos mares afora […] Destes ninguém encontra os corpos, que eles vão com Iemanjá […] Será que ela dorme com todos eles no fundo das águas? 

No dia 2 de fevereiro acontece a maior festa popular na capital baiana. Em Salvador, milhares pessoas trajadas de branco fazem uma procissão ao templo de Iemanjá, localizado na praia do Rio Vermelho, onde deixam os presentes nos barcos para serem levados ao mar.

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Se você já leu Mar Morto ou qualquer outro livro de Jorge Amado, não deixe de comentar como foi sua experiência literária. Para saber mais detalhes do livro, clique no link abaixo.

7 comentários em “Resenha: Mar Morto, de Jorge Amado”

  1. Nada como rever o jovem Jorge Amado. Neste livro de “iniciação literária”, já está impressa a tônica maior da obra desta pessoa fora de série, de par em par com a companheira Zélia Gattai: a vastidão geográfica, e a profundidade psicológica de seus/suas protagonistas ou personagens.

    Beleza de Blog, muito bem cuidado.

    Um abraço.
    Darlan M Cunha
    (Belo horizonte, MG)

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      1. Exato, Cíntia. Minha esposa é da Bahia, de uma cidade do Sul do Estado. Teixeira de Freitas. Realidade muito desigual. Os escritores de uma forma geral têm este papel: não deixar que as iniquidades fiquem só debaixo do tapete.

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